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Conversa, quarta feira, 05 de setembro 2012

Um grupo religioso colocou nos jornais de Pernambuco um ataque a homossexuais e a outras categorias de pessoas que esse grupo considera sem Deus. Coitado de Deus. Quanta coisa ele tem de suportar da parte dos que usam o nome dele. No Judaísmo, tem uma tradição dos 36 justos (i lamed waw) que por sua justiça sustentam o mundo e que nem sabem que é por causa deles que o mundo não é destruído. Essa tradição rabínica conta que diante do imenso sofrimento do ser humano, alguns desses justos sofrem e choram tanto que o próprio Eterno (bendito seja o seu nome impronunciável), chora com eles e permanece inconsolável. Elias Wiesel, judeu prêmio nobel de literatura, dizia: "Deus chora mais do que qualquer sofredor pode chorar. Nós o invocamos porque temos compaixão dele e queremos consolá-lo". Lembrei-me dessa história judaica ao saber dessa forma de alguns grupos e às vezes até da própria Igreja usar o nome divino para legitimar suas discriminações mesquinhas e seus preconceitos reacionários. 

Nesta sexta feira, 07, vou participar do 18° Grito dos Excluídos que aqui no Recife se encontrará às 08, 30 h na Praça Osvaldo Cruz, no centro da cidade. Sobre isso escrevi o seguinte: 

Estado a serviço da nação

“Queremos um estado a serviço da nação, que garanta direitos a toda população!”. Esse é o tema do 18º Grito dos Excluídos que em todo o Brasil ocorre nesta sexta feira 07 de setembro . O grito leva às ruas a mobilização popular que denuncia o modelo atual de política que ainda preserva as raízes da desigualdade social e da injustiça estrutural, base da nossa organização social e política.

Há quem pense que o Grito dos Excluídos e esse tipo de mobilização social estão esgotados. De fato em uma sociedade na qual tudo é espetáculo de massa, se torna mais difícil mobilizar organizações e movimentos populares, principalmente neste 07 de setembro, final de semana prolongado e início de temporada de praia. Entretanto, a cada ano, o grito tem crescido. Fica mais organizado e se espalha por todo o país. O Grito é protagonizado pelos movimentos populares e apoiado pelas pastorais sociais ligadas à Igreja Católica, como iniciativa ecumênica e laical. É um gesto profético em defesa da justiça e do direito de todos. Em outros tempos, bispos que eram verdadeiros pastores como Dom Hélder Câmara se colocavam como voz dos que não tinham voz. Hoje os próprios excluídos lutam para ter voz e vez no embate por uma plena cidadania.

Simone Weil, mística e intelectual francesa do início do século XX, dizia: “Eu reconheço quem é de Deus, não quando me fala de Deus, mas pelo seu modo de se relacionar com as pessoas e de lutar pela justiça no mundo”. A ONU acaba de confirmar: o Brasil é a sexta economia do mundo, mas apenas três países ganham de nós em desigualdade social. Não poderemos mudar essa realidade apenas com gritos, mas, de fato, o Grito dos Excluídos é um movimento mais amplo do que apenas a mobilização de massas que sai às ruas no 07 de setembro. Inclui reuniões, manifestos assinados e aprofundamento de debates políticos com propostas alternativas importantes para o país.

Neste ano, o Grito dos Excluídos ocorre em meio à campanha eleitoral pelas prefeituras e câmaras de vereadores. Infelizmente, assistimos a alianças partidárias que não se baseiam em acordos programáticos e propostas novas para o país. Visam apenas garantir mais tempo em programas de televisão e têm como única meta a conquista do poder. É preciso outro modelo de política, não apenas parlamentar, mas participativo e comunitário. O Grito dos Excluídos ensaia esse protagonismo popular.

Para quem é cristão, a meta da vida espiritual é viver e testemunhar no mundo o reinado divino, projeto de um mundo novo regido pelo amor e pela justiça. Nenhum regime social esgota a realidade do reino de Deus, mas uma sociedade mais justa e democrática é sinal que aponta para a efetivação desse projeto divino. Na carta aos romanos, Paulo afirma que precisamos passar de um tipo de fé que não leva à justiça a uma fé que realmente leve à realização da justiça (Cf. Rm 1, 17). 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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