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Conversa, quarta feira, 11 de março 2015

Escrevo do aeroporto do Rio de Janeiro, esperando o voo para Madri, de lá para Milão, onde tomarei o trem para Verona. Em Verona, ficarei uns cinco dias com meus amigos o padre Marco Campedegli e Roberto Vinco. De lá, seguirei para Túnis, onde participarei do Fórum Social Mundial e, em nome da Associação de Teólogos/as do Terceiro Mundo (ASETT), coordenarei um grupo de trabalho sobre Diálogo Inter-religioso no Fórum Mundial de Teologia e Libertação.

Vivemos em um mundo que parece tão sem rumo que devemos agradecer a Deus ainda haver iniciativas como essas. Quando surgiu o Fórum Social Mundial, por iniciativa e ideia de alguns brasileiros como o amigo Chico Whitacker, não se pensava que fosse ter uma acolhida e uma repercussão tão grande no mundo inteiro. Nos primeiros anos, (no segundo e terceiro fórum) os participantes chegavam a mais de cem mil pessoas. Lembro-me da minha emoção quando vi, participando do fórum, índios de todo o nosso continente, dalits indianos que a sociedade hindu, com a conivência internacional, sempre considerou párias sem direito a levantar a cabeça, ali de pé e discutindo de igual para igual com intelectuais, líderes políticos e cidadãos de todo o mundo.

Depois de quase 15 anos, alguns temas voltam sempre à discussão: o Fórum deveria ter uma diretiva prática, um documento conclusivo, uma palavra de ordem, além de "um outro mundo é possível"? A coordenação internacional acredita que o importante é apoiar e valorizar as iniciativas das organizações sociais e movimentos sem querer centralizá-los ou lhes dar uma orientação direta. Já é um passo importante o próprio fato de possibilitar um encontro da sociedade civil internacional, um espaço no qual qualquer pessoa humana participa e fala pelo simples fato de ser humano.

No plano da Teologia, a novidade é que o Cardeal presidente da Congregação da Doutrina da Fé não somente não condena mais a nossa teologia como até escreve e publica livros junto com Gustavo Gutiérrez, nosso patriarca. Agora saiu o segundo livro do Cardeal Muller e Gutierrez. E a novidade é que o prefácio é simplesmente do papa Francisco... Pessoalmente, isso não me parece a coisa mais importante. O importante é ver se essa teologia, feita hoje em dia, continua sendo fiel às suas origens, isso é, refletir a caminhada dos povos oprimidos em direção à vida e à libertação e se nesse percurso a Teologia da Libertação continua alimentando a fé e a espiritualidade do pessoal de base.  

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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