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​Conversa, quarta feira, 13 de fevereiro 2013

A Igreja e a juventude

Em uma paróquia da Itália, uma jovem afirmou: “Quero me desligar da Igreja porque não posso ser de uma religião que não aceita dialogar verdadeiramente com a minha geração”. O padre lhe chamou atenção para dois aspectos da questão. O primeiro é que, segundo o Concílio Vaticano II, Igreja é primordialmente local. Então, o importante seria engajar-se em uma comunidade mais aberta. Se existem paróquias que, no encontro com os jovens, já vêm com dogmatismo e não aceitam colocar-se em questão, outras se põem em diálogo com a juventude. Um segundo aspecto do problema é que a situação pode mudar e é importante que quem quer dialogar tome a iniciativa e corra o risco da relação.

A partir dessa quarta feira de cinzas, a Igreja Católica no Brasil assume o diálogo com a juventude como tema da sua Campanha da Fraternidade. Toma como assunto da Campanha da Fraternidade a Juventude. O tema escolhido “Eis-me aqui. Envia-me” (Is 6) revela que a Igreja quer partir do protagonismo dos/as jovens e garantir que eles possam ser sujeitos ativos de sua própria história e sua participação na Igreja. De fato, embora a taxa de envelhecimento tenha aumentado e essa será a tendência nos próximos anos, podemos dizer que o Brasil ainda pode considerar-se um país de jovens. Entretanto, conforme todas as estatísticas, a adolescência e juventude são as etapas da vida mais atingidas pela violência. Em todo o Brasil, é ainda assustador o número de assassinatos de jovens, principalmente de jovens mais pobres. A incidência maior é de jovens negros e que vivem em favelas. É urgente lutar contra essa iniquidade e fazer parar essa máquina de morte.

O texto-base da Campanha da Fraternidade se dá conta de que nos últimos anos a juventude mudou muito. Embora continue aberta ao mundo e à vida como sempre foi, atualmente é muito mais tentada pela força da publicidade e se comunica primordialmente pela internet e pelas chamadas redes sociais. Seu apelo à liberdade é profundamente pessoal. A própria CNBB reconhece que tem mais dificuldades hoje de conseguir adultos que aceitem e possam acompanhar e apoiar grupos e movimentos de juventude.

A Campanha da Fraternidade nos chama a atenção para a profecia própria que vem da juventude. A participação ativa e consciente dos jovens nas estruturas sociais, politicas e mesmo espirituais tem se dado mesmo sem que a sociedade e as religiões favoreçam esse protagonismo. Precisamos prestar atenção ao que está se passando em várias regiões do mundo. Foram jovens que deram origem à chamada primavera árabe, aos indignados na Espanha ou Ocupe Wall Street nos Estados Unidos. Esses movimentos contêm uma forte crítica ao sistema dominante na sociedade, mas, infelizmente, muitas vezes, não conseguem propor com clareza um caminho novo. Do mesmo modo, nas Igrejas e religiões, muitos jovens têm fortalecido movimentos e correntes espirituais novas, nem sempre as mais abertas e críticas. É importante acompanhá-los e possibilitar o debate e o aprofundamento do caminho. Recentemente a própria CNBB (Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil) criou uma Comissão episcopal para o serviço à juventude. “Propõe aos que trabalham com jovens uma revisão dos métodos, adaptação da linguagem e inserção maior nas ambiências virtuais e midiáticas” (Texto-base, p. 133). No Brasil, a maioria da juventude ainda pertence às classes mais pobres e enfrentam a frustração de viver em condições precárias e sem os meios necessários a uma vida digna. As Igrejas cristãs precisam compreendê-los nesse sofrimento, acompanha-los em sua luta e solidarizar-se com eles na defesa da vida e no caminho da libertação.

O diálogo com os jovens e o serviço desinteressado à juventude despertam em nós a jovialidade como sinal do Espirito de Deus na nossa vida. Parece que os jovens acessam em nós o jovem ou a jovem que existe, muitas vezes, adormecido/a no interior de cada um de nós, adultos. Essa jovialidade nos abre de forma mais profunda à energia sempre nova de Deus, que, conforme a Bíblia, nos diz sempre: “Sou eu que renovo todas as coisas” (Ap 21, 5). 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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