Acabei minha missão desses dias em Brasília. Volto a Recife amanhã cedo. Hoje fui entrevistado por Marcos Wortmann, diretor geral da TV Supren, um rapaz excelente e amigo. Ele quis me entrevistar sobre como o Cristianismo desenvolve a mística e que diferenças teria com as místicas orientais (meditação, ioga, etc). Foi uma conversa boa e profunda. Ele queria saber de minha experiência, como eu entrei no mosteiro e como passei a trabalhar no diálogo entre as religiões. Marcos queria clarear a diferença entre religião e espiritualidade. Com todo o cuidado de não apresentar o Cristianismo como se fosse um caminho melhor do que nenhum outro, mostrei que a religião pode ser o invólucro, a espiritualidade deve ser o conteúdo; a religião é a lâmpada. A espiritualidade é a luz. No Evangelho, ao falar sobre a religião, Jesus diz: “Não adianta colocar remendo novo em roupa velha. O remendo repuxa o pano e rasgão fica maior ainda. Ninguém coloca vinho novo em barris velhos porque o vinho novo arrebenta os barris velhos e tanto o vinho como os barris se perdem. Para vinho novo (que é o evangelho), temos de ter barris novos” (Mc 2, 21- 22). No Apocalipse, a única palavra que é escutada diretamente de Deus é: “Eu sou aquele que faço novas todas as coisas” (Ap 21, 5). Esta palavra de Deus ressoa hoje para cristãos e não cristãos como um novo apelo para nos abrirmos à permanente mudança inspirada pelo Espírito de Deus nas Igrejas, nas outras religiões e no mundo. Essa mudança é nos enchermos de amorosidade e não vivermos mais para nós mesmos mas para os outros, passarmos de um modo de viver egocêntrico ou auto-centrado para uma vida cosmocêntrica e onde o outro (seja as outras pessoas, seja até mesmo os outros seres vivos) são para nós sinais do amor divino e da presença eficaz dele em nossas vidas.