Hoje, aceitei o compromisso de um dia de reflexão e celebração com o pessoal do movimento Encontro de irmãos, movimento de evangelização dos pobres que era a pupila dos olhos do nosso profeta Dom Hélder Câmara em seus tempos de arcebispo de Olinda e Recife. Hoje, eles não encontram mais quase nenhum apoio do clero e da Igreja oficial, embora o arcebispo lhes mostre simpatia e acolhida. Nessa circunstância, é claro, a tentação é a de ficar na saudade e se prender a questões e práticas dos anos 70. Isso seria grave erro. O importante é ouvir o que o Espírito diz, hoje, às Igrejas.
Alguém me perguntou o que significa o fato de que Roma parece estar se abrindo à Teologia da Libertação. Nesses dias, o próprio papa recebeu na Casa Santa Marta, onde ele mora, o nosso querido patriarca Gustavo Gutiérrez.
Há anos não encontro Gustavo e tenho por ele muito carinho. A última vez que o encontrei, fui assessorar um encontro de pastoral em Iguazu na Argentina e quando cheguei no aeroporto o encontrei me esperando. E ele me disse: Cheguei mais cedo aqui só para te encontrar e dar um abraço. Senti-me feliz com aquilo.
Então, o que vou dizer agora nada tem contra ele. É apenas uma palavra de método.
Essa história do papa o receber é uma coisa. Acho ótimo e creio que o papa está precisando desse tipo de relacionamento plural. Penso que o maior problema dos dois papas anteriores é que eles acabaram com a catolicidade compreendida como diversidade, universalidade. Eles só aceitavam se relacionar com pessoas de uma única orientação e todo mundo tinha de ser xerox deles ou não era "católico". Agora, o papa tem as convicções dele e a forma de ser dele, mas recebe todo o mundo e dialoga. Isso é uma grande esperança. Agora sobre essa história do Vaticano se abrir à Teologia da Libertação, me lembra uma experiência que vivi nos tempos de 80 quando eu estava em Goiás. Um dia, passei em um seminário do Centro-oeste para dar aula de Bíblia e fui chamado em uma sala para conversar com frei Mateus Rocha, teólogo especializado em Cristologia e provincial dos dominicanos. Ele me disse:
- Marcelo, eu quis falar com você porque estou muito preocupado. Imagine que as autoridades do seminário aceitaram eu e você como professores aqui.
E eu meio inocente, perguntei:
- Por que você está preocupado com isso? Em que sentido?
- Por que eu não sei se foram eles que mudaram para melhor ou fomos nós dois que mudamos para pior. E como eu tenho uma longa experiência com a instituição, suspeito que é mais fácil termos sido eu e você que pioramos do que eles que melhoraram.
Sei que a atual história do Vaticano com a Teologia da Libertação não tem nada a ver com isso, mas de todo o modo, me lembrou essa história.