Hoje, almocei com Dom Fernando e tivemos um diálogo bom e amigo sobre a Igreja, sobre nossa Igreja local e minha possível função nessa caminhada. Ele se mostrou muito amigo e capaz de escutar. Voltei contente desse diálogo. Não conto um projeto que arquitetamos juntos porque ele me pediu para esperar que, primeiramente, ele consultasse os seus assessores. Tudo bem.
Aliás, sobre essa questão de esperar. Nesses últimos dias do Advento, medito sobre a esperança. Meu grupo de teologia propõe para esse Natal uma mensagem de esperança. De fato, ao menos aqui no Brasil, parece que vivemos uma onda de desesperança e desânimo diante dos erros do governo e das perspectivas de uma oposição que ainda é em tudo pior e mais corrupta e cruel com o povo mais pobre. Medito sobre essa relação entre o Natal e a esperança como atitude espiritual.
Paulo Ricca, pastor valdense italiano, teólogo que conheço e estimo, afirma: "A esperança é um verdadeiro santuário de peregrinação, no qual o nosso corpo e nosso espírito marcam encontro". Necessidades, desejos, sonhos e expectativas, tudo isso desagua na esperança. Mas, o nosso mestre, o padre José Comblin, ensinava: "Esperar não é o mesmo de desejar. Esperar é abrir-se à promessa de Deus". E Dom Pedro Casaldáliga diz: Saber esperar com a impaciência de quem apressa a hora de cumprir aquilo que espera.
Nesses dias, as comunidades cristãs e o mundo já estão no clima da festa de Natal. Até a vigília da festa, amanhã à noite, 24, a liturgia antiga da Igreja nos convida a pedir a vinda, não apenas do menino que, um dia, Jesus foi, mas do Cristo atual, ressuscitado e que se manifesta vivo como energia de renovação para o planeta Terra. Em suas cartas, o apóstolo Paulo escreve sobre o Cristo: “Ele sujeitará a si todas as coisas. Tudo o que existe no universo tem sua subsistência nele (no Cristo). Ele recapitula tudo o que existe (Col 1, 15 – 22). Sua ressurreição inaugurou uma “criação nova” como parto de um universo reconciliado (Gl 6, 2 e 2 Cor 5, 14 ss).
A conclusão disso é que o Natal não deve ser apenas uma recordação nostálgica, como se se tratasse de um simples aniversário do nascimento de Jesus. Essa festa do 25 de dezembro foi criada no século IV. Quando os antigos romanos celebravam o solstício do inverno, os cristãos quiseram lembrar que o Cristo é o sol da justiça que vem do alto para renovar nossas vidas. Nos primeiros tempos, o nome da festa do Natal era “A Páscoa do novo Nascimento”. Assim, os antigos cristãos afirmavam que o Natal celebra uma manifestação do Cristo Ressuscitado. Até hoje, em algumas Igrejas Orientais, se chama a festa de “Teofania”, manifestação divina. E, tanto no Oriente, como no Ocidente, no dia 06 de janeiro se celebra a Epifania, a manifestação do Cristo em nossa carne.
A cada ano, falamos de uma nova vinda porque os efeitos de sua ressurreição em todo o universo ainda não são visíveis. Sua manifestação é um processo no qual Deus quer que participemos como testemunhas e instrumentos de sua presença amorosa no universo. Em cada Natal, pedimos que essa realidade nova do universo cristificado, (ou seja, totalmente assumido pela presença do Cristo ressuscitado) se manifeste logo e de forma total. Apesar de que o nosso mundo parece cada vez mais doente e dividido, celebramos a confiança de que a manifestação do Cristo Cósmico venha salvar a nós e ao universo.
Nesse mês de dezembro, por ocasião da Conferência da ONU sobre mudanças climáticas, todas as grandes religiões do mundo se mostraram conscientes da sua responsabilidade para salvar o planeta Terra da ambição humana que o condena à morte.
Há poucos dias, as comunidades judaicas celebraram a festa de Hanuká. Antigamente, nessa festa, se acendiam as lâmpadas do templo. Atualmente, não existe mais o templo de Jerusalém e não se podem mais acender suas lâmpadas para trazer luz à escuridão do inverno. Agora, o templo de Deus é o universo. Então, as luzes de Hanuká são acesas nas casas judaicas para iluminar a humanidade e libertar o mundo da escuridão do desamor e da indiferença.
Na Amazônia, o povo Yanomami tenta escutar de novo os Xamãs que fazem ressuscitar os cânticos dos Xariris, espíritos da floresta que é viva. Ela está ferida pelas queimadas provocadas pelos fazendeiros. Ela é destruída pelas máquinas dos garimpos e das mineradoras que provocam destruições e podem ocasionar desastres como o de Mariana.
É importante que as comunidades cristãs liguem essa celebração do Natal com o cuidado da terra, da água e de toda a natureza. Hoje, o universo é o verdadeiro presépio do Cristo Cósmico. Embora de forma ainda invisível, ele vem, hoje a esse mundo. A liturgia dos últimos dias antes do Natal invoca Jesus como Salvador para o mundo de hoje. Com sua profunda formação litúrgica e grande sensibilidade artística, Reginaldo Veloso traduziu de forma adaptada as invocações das antífonas Ó. A cada dia, uma nova invocação chama o Cristo Ressuscitado, um dia como Libertação, no outro como Sabedoria. Um dia, o contempla como nova Sarça Ardente, na qual Deus se revela aos Moisés de hoje. Finalmente, ele é chamado de Emanuel, presença divina no meio de nós. Todos os dias, a versão das comunidades conclui com um refrão que canta: “Vem, ó filho de Maria, vem trazer-nos alegria. Quanta sede, quanta espera, quando chega, quando chega aquele dia?”