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Conversa, quarta feira, 23 de julho 2014

Hoje, acabo de receber pela televisão a notícia do falecimento de Ariano Suassuna, intelectual, escritor e grande artista. Eu o conheci por acaso quando era menino e ele jovem artista. Depois, o acompanhei por seus livros e escritos. Nunca tive ocasião de participar de uma de suas aulas-espetáculo que me disseram sempre, ter sido geniais. Aqui em Pernambuco, ele deixa uma herança artística imensa; todo o movimento armorial que aproxima a arte e a sensibilidade popular do clássico e universal. Para mim, é o que devemos fazer com a teologia e a fé. Partir do popular e universalizar a linguagem lhe enriquecendo com um tom que é do saber universal. 

Por falar nisso, hoje recebi um presente e quero reproduzir aqui um texto que recebi do irmão e amigo Faustino Teixeira, nosso mestre na teologia do diálogo interreligioso e do pluralismo. Ele homenageia o grande mestre Ruben Alves e isso conforta o nosso coração ao lembrá-lo. : 

Os riscos de uma teologia sem beleza e sem sabor:

Rubem Alves foi um dos pioneiros da Teologia da Libertação, com a publicação de seu livro, em 1969, sob o título: "A Theology of Human Hope" (o título original de sua tese doutoral era outro: Towards a Theology of Liberation). 

Tempos depois, ele acrescentou um prefácio, publicado nas Comunicações do Iser (1988). O título era bem significativo: Sobre deuses e caquis. Começa o prefácio pedindo desculpas ao leitor: 

"Peço desculpas por ter escrito assim tão chato. Eu não queria, porque eu não sou assim. Se escrevi desse jeito foi porque me obrigaram, em nome do rigor acadêmico. Eles pensam que a verdade é coisa fria e até inventaram um jeito engraçado de escrever, tudo sempre no impessoal, como se o escritor não existisse, e assim o texto parece que foi escrito por todos e por ninguém. E foi por causa deste frio que se interditou o aparecimento da beleza e do engraçado nos textos da ciência. O saber deve ser coisa séria, sem sabor".

Como indica Rubem Alves, a teologia deve deixar-se habitar por outros ares, mais livres e mais soltos:

"Começaria por informar meus leitores de que teologia é uma brincadeira, parecida com o jogo encantado das contas de vidro que Hermann Hesse descreveu, algo que se faz por puro prazer, sabendo que Deus está muito além de nossas tramas verbais. Teologia não é rede que se teça para apanhar Deus em suas malhas, porque Deus não é peixe, mas Vento que não se pode segurar ... Teologia é rede que tecemos para nós mesmos, para nela deitar o nosso corpo".

E esse modo de refletir não é heresia, justifica Rubem Alves. Justifica que apenas repete coisa "muito velha" e esquecida, presente na tradição protestante, e também na literatura de um Guimarães Rosa. Em reflexão que nos faz pensar em Eckhart, cita o poeta Alberto Caieiro: "Pensar em Deus é desobedecer a Deus". E continua: "A única coisa que temos é o tremor na Carne quando nela acontece a magia, e ela fica possuída pelo poema. É então que as Ausências se fazem Presenças (fugidias...)." 

O prefácio de Rubem Alves é longo mas delicioso. Lá pelo meio tece fortes críticas a certos teólogos:

"Há teólogos que se parecem com o galo. Acham que, se não cantarem direito, o sol não nasce: como se Deus fosse afetado por suas palavras. E até estabelecem inquisições para perseguir galos de canto diferente e condenam outros a fechar o bico, sob pena de excomunhões. Claro que fazem isto por se levarem muito a sério e por pensarem que Deus muda de ideia ou muda de ser ao sabor das coisas que nós pensamos e dizemos. O que é, para mim, a manifestação máxima de loucura, delírio maníaco levado ao extremo, este de atribuir onipotência às palavras que dizemos".

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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