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​Conversa, quarta feira, 24 de julho 2013

Dia muito pesado. O frio com sensação térmica de sete e oito graus em cima do morro Santa Marta onde estou comentando a visita do papa para a televisão venezuelana. Além disso, chuva fina que nenhum guarda chuva ou proteção consegue evitar que molhe. E um programa intenso. No final de cinco horas de trabalho, todo molhado e tremendo de frio, resolvi descer o morro de bondinho. Eu estava no alto, na quinta estação. Na terceira, ele quebrou e eu tive de descer o morro a pé, por escadarias pequenas, molhadas, mal conservadas e às vezes em meio aos barracos, um verdadeiro labirinto. Não tive nenhum medo de um ambiente sobre o qual já ouvi histórias complicadas. Só encontrei crianças e pessoas de idade. Os adultos estavam todos fora. Como as casas são muito pequenas e pobres, as pessoas convivem muito mais umas com as outras. Como é um morro, as pessoas conversam aos gritos de um nível para outro. Levei pouco menos de meia hora para chegar embaixo e correr para mudar de roupa no hotel. 

Quis descansar. Não consegui. Sentia-me mal por ter deixado os outros da equipe lá em cima e trabalhando, embora eles viram que eu precisava voltar e mandaram-me mudar de roupa e não haveria mais comentário a fazer na tv hoje. 

Acabei saindo e fui ver um filme. Vi "Hannah Arendt", obra alemã da diretora Margareth von Trotta. O filme é todo centrado na época que a grande filósofa já está refugiada nos EUA e serve de correspondente para a revista New Yorker para comentar o julgamento do líder nazista Adolf Eichmann. O contato dela com o criminoso nazista que mandou milhões de pessoas para a morte a fez escrever sobre a banalidade do mal. Só o amor e a bondade são profundos e absolutos. O mal, não. O mal é banal e o pior mal é feito por quem não pensa e simplesmente faz, sem ter opinião própria e sem levar em conta as consequências. Quando interrogado sobre os crimes que praticou, Eichmann respondia apenas: eu cumpri ordens. Simplesmente obedeci (quando é claro não deveria jamais ter obedecido). A sociedade teve imensa dificuldade de compreender o pensamento de Hannah Arendt, mas hoje a gente se depara com essa banalidade do mal ou como dizia um amigo meu, com a normose que contamina tanta gente da sociedade atual, sem se dar conta de que sua omissão e indolência ou recusa de pensar pode provocar muito mal. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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