Buenos Ayres
Ontem foi um dia cheio. Pela manhã cedo, caminhei meia hora pelas ruas do centro dessa cidade bela e até romântica. A primeira coisa que impressiona é a quantidade de livrarias. Já escutei uma vez falar que Buenos Ayres tem mais livrarias do que todas as cidades do Brasil juntas. Embora isso não esteja provado, é possível. É impressionante como em cada rua, ou quase em cada quadra, encontramos uma livraria. Também teatros. Disseram-me que existem mais de cinco mil grupos de teatro trabalhando e como escolas de teatro. Pelo centro também quase em cada rua um teatro, alguns pomposos e elegantes, outros mais simples. Um ambiente cultural de fazer inveja a nossas cidades.
Na segunda metade da manhã, participei de uma reunião com umas trinta pessoas, vindas de vários municípios, em um hotel de luxo (Bauen) no centro de Buenos Ayres. Esse hotel é uma das 130 empresas ocupadas pelos trabalhadores e que hoje o dirigem. Tudo funciona muito bem e o pessoal ligado aos movimentos populares sempre fazem reunião ali até para colaborar com eles. A reunião tinha um grupo de Córdoba (que é como vir de Salvador a Recife) e de municípios mais próximos de Buenos Ayres. O tema era livre. Queriam me encontrar. Acabaram todos contando que são grupos vindos da Igreja e que hoje estão nos movimentos sociais. E queriam refletir como repensar os 50 anos do Concílio Vaticano II de modo que ilumine os movimentos sociais e não somente o âmbito interno da Igreja. Gostei da conversa. À tarde, fui à feira internacional do livro. Imensa e angustiante porque a gente vê muita coisa, fica com vontade de comprar e aí é claro que não dá.
Falei no lançamento do livro da Clelia Luro "El martir que no mataran" sobre Dom Helder Câmara. Nem precisava. Bastaria ler o prefácio do Pedro Casaldáliga que é curto e excelente. Mas, falei brevemente sobre o martírio não como forma de morrer (ele não morreu mártir), mas como forma de viver o testemunho da radicalidade de uma vida consagrada para que o projeto divino de um mundo mais justo e fraterno vigore nessa terra. Havia quase 500 pessoas. Fiquei impressionado que o livro foi editado pelo município de Quilmes e na oportunidade da celebração dos 50 anos do Concílio que a prefeitura de Quilmes está valorizando para conseguir que seus habitantes aprofundem a questão do diálogo interreligioso e intercultural. Lá é forte a questão das religiões negras (é praia e fica no delta do rio da Plata onde vinham os negros no século XVIII). Hoje volto ao Brasil, mas com vários compromissos com esses grupos aqui.