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Conversa, quarta feira, 26 de novembro 2014

Hoje se completam 25 anos da fundação do CENDHEC, Centro Dom Helder Camara. Aceitei celebrar às 19 horas o culto ecumênico de ação de graças por isso. 

              Sem dúvida, pessoas como Dom Helder, Dom Tomás e outros - nossos pais e mães que faleceram continuam o seu caminho no mundo através de nós. O próprio Jesus ressuscitado - diz o teólogo Bonhoeffer - "é o Cristo em forma de comunidade". Isso não significa que seja só isso. Quem é cristão acredita na vida eterna. Mas, em termos de ação e de continuidade da luta - o jeito é mesmo que essa luta continue através dos que se dispõem a prosseguir com aquele mesmo espírito e ideal.

No caso de pessoas como Dom Helder, Dom Tomás, Paulo Freire e outros, o risco é que as pessoas se apropriem do seu nome, construam memorial e até museus bonitos em homenagem, mas não mantenham o mesmo espírito da profecia.

Nesses dias, em Goiás, as pessoas estão inaugurando um memorial Dom Tomás Balduíno e estão publicando um livro com textos sobre ele (inclusive um texto meu). Mas, será que no dia a dia da vida, a proposta que Dom Tomás viveu e fazia de comunidades abertas e solidárias - com compromisso transformador do mundo - continua sendo a proposta dos mesmos que fazem essas homenagens? Ou as pessoas homenageiam os mortos como mortos e para que continuem mortos e não fiquem vivos em nós?

Não estou dizendo isso contra ninguém nem para julgar ninguém. É a mim mesmo que interrogo. Em primeiro lugar, sou eu que procuro ser coerente. Como todo profeta é incômodo, a tendência da gente é aquela que Jesus denuncia no evangelho: "Matam os profetas e depois constroem para eles belos túmulos". 

Nós não matamos as pessoas deles, mas podemos sim matar a profecia que eles nos trazem.

Nesse aniversário dos 25 anos do Centro Dom Helder Câmara, devo pensar que devo dizer no culto de ação de graças. E se a gente dá graças pelo tempo vivido, é para o compromisso de atualizar esse mesmo espírito, nem repetir tal qual o que se fazia ha 25 anos, nem achar que isso já passou e agora estamos em outra. Não. Estamos na mesma estrada, embora em outra curva da história. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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