Hoje é a vigília da festa de São Francisco de Assis, aniversário do seu trânsito. Embora toda minha formação e espiritualidade tenham sido em uma linha mais monástica e beneditina do que franciscana e mendicante, sempre tive São Francisco como uma espécie de padroeiro. Quando em 1964, entrei no noviciado para ser monge, o abade me consultou sobre o santo que eu gostaria de ter como padroeiro. Cada noviço apresentava três nomes. E ele escolhia um. Eu escolhi São Francisco e Santo Anselmo como os que eu gostaria de ter como padroeiro. Francisco por ser dos santos conhecidos e reconhecidos quem mais se assemelhou a Jesus - os seus biógrafos diziam que ele era como uma cópia do Cristo, em sua bondade com todas as criaturas e sua mansidão. Anselmo, cuja teologia (medieval) nunca me agradou, era, por outro lado o teólogo da amizade. Nenhum outro como ele desenvolveu tanto uma espécie de espiritualidade da amizade e por isso eu o escolhi.
Atualmente, o papa Francisco escolheu esse nome em honra do santo de Assis e está a cada momento chamando a Igreja para reviver o carisma de São Francisco a quem Jesus chamou para reformar sua Igreja. E a Igreja hoje anda muito necessitada de uma reforma. O problema é que muita gente resiste a isso. Tenho lido que o Cardeal de Lima (Cipriani) criticou abertamente o papa (nos jornais peruanos) porque Francisco recebeu e abraçou Gustavo Gutierrez, nosso pioneiro na teologia da libertação. E alguns cardeais da cúria o criticaram também publicamente hoje porque na sua entrevista mais recente, ele teria defendido o relativismo religioso (não foi nada disso. Ele simplesmente criticou o proselitismo e disse que deve se respeitar a verdade de cada um).
Será que ele, o papa, conseguirá estimular a Igreja a uma profunda renovação? Não acredito em reforma que venha de cima. Na história nunca ocorreu e dificilmente ocorrerá. E as bases, desde 1978, ou seja, desde a eleição de João Paulo II, não se mexem a não ser para dizer Amém ao de sempre. Então, peçamos a Deus que o espírito de Francisco de Assis seja retomado e possamos viver uma nova primavera eclesial.