Ao enfrentar o trânsito louco de nossas cidades, fazer fila no posto de saúde esperando vez, como em ver ou ouvir os jornais de cada dia, quem é mais sensível pode concluir: esse mundo está mesmo perdido! Alguém assalta uma criança para roubar um par de tênis. Outro agride um motorista para avançar o sinal, na rua, os meninos aprendem o dogma do, sempre que puder, tirar proveito do outro.
Nesse contexto, os enfeites de Natal não recordam mais o colorido da festa e sim o vermelho do sangue. E as músicas de Papai Noel ainda atiçam mais a voracidade do comércio. E as pessoas se perguntam que presente se darem nessa proximidade do Natal.
Se eu pudesse, sugeriria a todos: a si mesmo e aos outros, ofereça uma lente especial. Uma lente que mostre o sorriso da velhinha ao receber sua aposentadoria minguada. Uma lente que ressalte a bondade da vendedora que chega a advertir ao comprador que tal produto não vale a pena. E o jornalista que nos garanta: O Brasil não está tão mal, nem as pessoas são tão más, quanto a televisão de cada dia nos apresenta.
Há sim amor e solidariedade, escondidos em cada coração humano e doidos para ser desenterrados. Na cidade do Recife, colocaram cãmaras nas esquinas para filmar atos de violência e de roubo. 24 horas depois, as câmaras mostraram mais, muito mais, atos de solidariedade e pessoas ajudando outras, do que algum fato de violência urbana. Se assimilarmos isso e espalharmos essa notícia, esse Natal pode sim um renascimento de esperança. Para isso um dia, Jesus veio ao mundo e tinha no coração um projeto: tornar divino todo ser humano. Por causa disso, como dizia o poeta Peguy: "A esperança é uma menina encarregada de sempre recriar, onde o hábito é acomodar-se, semear inícios, onde a tendência é propagar a decadência (Alô Rede Globo, Alô, Band!), suscitar vida nova onde a rotina é o ritual".