Queridos irmãos e irmãs,
Hoje recebi uma cartinha pessoal muito carinhosa e amiga de uma importante Yalorixá - mãe de santo do Candomblé baiano. Ela me abençoava e me dizia para assumir meu Odu, isso é, meu caminho próprio ou vocação com todas as suas dificuldades e exigências. Senti-me feliz com essa bênção. E agradeço a Deus essa comunhão com a tradição e a sabedoria própria das comunidades afro-descendentes. Quanto mais aprendo sobre a cultura e a espiritualidade delas, mais me sinto confirmado na minha fé cristã e me sinto mais católico, isso é, aberto universalmente a tudo o que é humano, como dizia um autor do século III. O livro do qual falei ontem, concluí hoje. Valeu a pena ler e até estudá-lo, embora eu o achei muito europeu, isso é, olha a realidade a partir da Europa e das sociedades modernas do Ocidente e não de outros lugares, como é o nosso na América Latina. Também sinto que Marià Corbi no seu livro sobre Espiritualidade leiga, sem crenças, nem deuses, poderia ser mais dialético e menos linear, quase positivista. Apesar disso, tem intuições valiosas e colocações oportunas e profundas para nós. Acredito também que a espiritualidade é a dimensão amorosa da vida que assumimos ao contemplar e viver a realidade não apenas a partir das necessidades (o que nos faria egocêntricos), mas de forma gratuita e abertos ao outro pelo outro e não pelo que ele ou ela nos possibilita ou oferece. Proponho-me a isso: ver o outro com o olhar divino.