Acabo de voltar do Mosteiro da Escuta do Senhor, em Chã Grande, perto de Gravatá, PE, onde passei dois dias. Entrei no modo de ser da comunidade de lá. Vesti hábito beneditino, acordei às três e meia da madrugada para rezar Vigílias às quatro. E assim por diante. A finalidade dessa visita era participar da ordenação presbiteral do irmão Cristiano que é um monge amigo que foi companheiro meu em Olinda no tempo de jovem e eu acolhi no mosteiro de Goiás e é prior do mosteiro lá e hoje foi ordenado padre pelo bispo de Caruaru. Também devia conversar com o meu abade que veio da França para essa ordenação e estava lá nesses dois dias. Fiz as duas coisas e me fez bem espiritualmente essa disposição de ir ao encontro do diferente e procurar me adaptar a eles. E tal qual o meu encontro com os leigos da arquidiocese no final de semana passado, saí questionado. Cada vez mais descubro que é gente séria, gente excelente e que vive profundamente a oração e a espiritualidade, mesmo se de uma forma que não é minha forma de compreender a oração e a espiritualidade e de um jeito que eu nunca conseguiria viver. Mas, a forma é relativa. O importante é o amor. E diante do amor, diminuem todas as diferenças (não se apagam) e se relativizam todas as racionalidades. Diante de quem ora assim com o corpo e a alma e dedica à oração a sua vida inteira, eu me rendo e me vejo pequeno e apenas com uma sede imensa de viver isso e um desejo enorme de seguir do meu jeito e da maneira como Deus me chama e me quer, mas crescer nesse caminho...
Hoje, a Igreja fez memória de São Bento, patriarca dos monges do Ocidente e cuja regra de vida eu sigo desde os 18 anos. Ao celebrar sua memória, vejo como ele foi ousado e livre para o que a Igreja e os monges viviam no seu tempo e na sua cultura. Como hoje inculturar isso e viver do modo de hoje a mesma totalidade de consagração e a mesma unificação do ser interior? Que ele interceda por mim a Deus para que eu não me acomode nunca e jamais deixe de me inquietar e procurar sempre viver o amor divino com os mais empobrecidos. Hoje, celebrando no mosteiro, eu me sentia em comunhão com os movimentos sociais que tomaram as ruas e fizeram as manifestações e protestos por um Brasil novo e mais justo.