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Conversa, quinta feira, 13 de fevereiro 2014

Hoje, passei o dia inteiro participando do 6o Congresso Nacional do MST. Uma experiência linda ver aquela organização. 15 mil lavradores de todo o país e uma grande delegação internacional presente e atuante. E tudo parecia muito bem organizado. Encontrei o Seu Luiz, um militante do MST de 105 anos de idade, lúcido e participando de tudo, até da marcha de ontem. Impressionante. 

Reencontrei a irmã Aurélia, que junto com o padre Arnildo, em 1982, apoiou o primeiro acampamento de sem terra que foi em Ronda Alta, RS, onde tive minha segunda experiência de ficar detido pelos militares durante um dia (pelo famoso Coronel Curió). 

Encontrei o nosso mestre comum, François Houtard, sociólogo belga que foi professor de Camilo Torres em Louvain e formou toda uma geração de teólogos e militantes. Quanta gente boa. 

Reparto com vocês aqui o que disse aos companheiros do MST:

Companheiros e companheiras do MST,

A mística que os companheiros do Nordeste fizeram aqui nessa manhã me fez recordar um fato que eu vivi e que já contei em vários lugares, inclusive em encontros do MST. Então, peço desculpas aos companheiros que já ouviram e peço permissão para repetir, porque esse fato é importante aqui para nós agora.

Em 2007, eu estava em um ginásio de esportes como esse, lá em Caracas, na Venezuela, durante o Fórum Social Mundial e os companheiros do MST e da Via Campesina me escolheram para encerrar o momento da mística com uma palavra de cinco minutos que introduzia a fala do presidente e nosso comandante Hugo Chávez.

Eu aceitei o compromisso, mas na hora H, deu um branco. Quando vi aquela multidão de gente, (eram 25 mil pessoas no ginásio de esportes) fiquei sem saber o que deveria dizer. E fiquei  no corredor angustiado, esperando a hora de falar e rezando: Meu Deus, me ajude, me ilumine. 

Eu estava lá andando no corredor de um lado para o outro, quando vem ao meu encontro um rapazinho, soldado venezuelano. Aproxima-se de mim e me pergunta:

- Você é o padre que vai abençoar a nossa revolução?

Respondi na hora: 

- Companheiro, a nossa revolução não precisa ser abençoada Ela já é sagrada por si mesma. Ela é que nos abençoa. Ela é sagrada  porque é uma obra de amor. Tem como finalidade transformar o mundo, partilhar a terra e os bens da terra, resgatar a dignidade dos empobrecidos e valorizar as culturas oprimidas.

Hoje, aqui, quero dizer isso para vocês. Nesses 30 anos de luta, vocês do MST devolveram ao Brasil essa chama da revolução, mantiveram aceso o fogo da mística revolucionária. Hoje, se o MST esfriar, o Brasil inteiro vai ranger os dentes de frio. Pois bem, não tenham dúvida: eu lhes garanto, eu comprometo minha vida ao dizer a vocês que esse calor revolucionário que os anima é inspiração do Espírito Divino. 

Na fonte de todas as tradições espirituais e religiosas, há um projeto revolucionário, chame como se chamar. O fundamento é o amor solidário e o objetivo é restaurar a criação harmoniosa e justa que Deus quer para o mundo e para o universo. 

Por isso, vocês não fazem mística. Vocês são vocês mesmo a mística, o caminho da revolução.  

No mundo antigo, os atletas que iam para as arenas lutarem e os soldados que iam para a guerra eram antes untados com óleo, eram ungidos para ter força. Acreditava-se que o óleo fortalecia o corpo e dava proteção contra golpes e doenças. Daí surgiu na Igreja o costume de ungir as pessoas. Isso se chama crisma, que quer dizer unção, para torna-las mais fortes na luta da vida.

Hoje aqui agora eu não tenho óleo, mas tenho sim o perfume do meu amor por vocês e quero ungí-los estendendo minhas mãos para vocês, para invocar a energia revolucionária do amor solidário sobre cada um e cada uma para a gente partir daqui para mais luta.

E aqui diante de vocês me comprometo a continuar – apesar de todas as doenças e fragilidades – a dar até o último suspiro de minha vida por essa causa. Embora com problemas de saúde e meio fragilizado, eu não podia deixar de estar aqui. E quero, nesse momento, me comprometer a ir até o último instante de minha vida e consagrar até o meu último suspiro por essa causa pela qual lutamos e por vocês todos. Deus os/as abençoe.

Obrigado. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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