Cada irmão que parte nos recorda que estamos todos a caminho. Ontem soube da partida de Dom Beda Pereira de Holanda, monge beneditino que foi meu colega de ordenação presbiteral, posteriormente foi abade do mosteiro em Olinda e nos últimos anos estava como prior no pequeno mosteiro de Fortaleza. Faleceu aos 76 de um câncer nos ossos que se propagou por outros órgãos e o levou depois de uma luta de anos e anos. Está agora no céu intercedendo por nós.
Nesses dias, parece meio irônico que eu esteja me preparando interiormente para essa celebração do Natal lendo o mais recente livro do Roger Leanners, um padre jesuíta austríaco de 90 anos e que publicou vários livros. Em português, tínhamos "Um outro Cristianismo é possível" e agora esse "Viver em Deus, sem Deus".
Quem estudou teologia não estranha o título. Sabe que vem do teólogo alemão Bonhoeffer que já o adaptou de um jurista do século XVI: "Viver com Deus e em Deus, como se Deus não existisse". No século XVI, esse princípio permitiu a paz religiosa na qual nenhuma religião tinha direito de se impor. (em princípio, é claro. Na prática, a Igreja Católica sempre fez isso). No século XX, esse princípio conduziu ao que Bonhoeffer chamava de "um cristianismo adulto", que não recorre a Deus como tapa-buraco e nem como alguém de fora a intervir nos problemas do mundo. O pastor luterano Bonhoeffer propunha uma fé livre da religião (podia ser religiosa ou não, mas livre no sentido de não submissa) e uma interpretação da espiritualidade e da oração muito adulta e muito consciente. O livro do Roger Leanners é muito interessante, muito vivo. É claro que ele fala a partir da Europa e de uma visão de civilização moderna ocidental que tem diferenças da cultura nossa aqui na América Latina. De todo modo, vale a pena ler e conversar com ele. Depois, comentarei mais com vocês o que estou pensando dessa leitura.