Almocei com um terapeuta, amigo de um amigo, que me pediu para conversar comigo. O tema: vida consagrada ou de monge. Uma história bonita e de muita busca. Criança católica, jovem espírita, adulto budista e hoje em busca, em busca e em certa desilusão com as instituições religiosas. No entanto, em busca. Promove retiros de silêncio e de meditação interior para grupos e de forma gratuita. Não me está pedindo nada de institucional. A conversa era para me oferecer apoio. Ele imagina que quando eu pregar um retiro, ele poderia acompanhar e oferecer uma parte ligada à meditação oriental. Aceitei com alegria e já estou olhando minha agenda para ver onde posso encaixá-lo, ou seja, onde o grupo com o qual vou trabalhar terá abertura e aceitação para esse tipo de retiro no qual o que vale é o silêncio e não a palavra, é a experiência interior e não a reflexão; é o deixar-se conduzir pela energia do amor e não tanto discorrer sobre ela.
Ao mesmo tempo, lia uma meditação bíblica do saudoso cardeal Carlo Maria Martini (ex-arcebispo de Milão). Ele dizia que Mateus e Marcos falaram do Cristo, mas não da Igreja. E só Lucas, ao abordar os Atos dos Apóstolos, nos conduz do Cristo à Igreja. E para ele (Martini) essa experiência da Igreja é a experiência do Cristo total, ou seja, do Cristo ressuscitado em forma de comunidade. Li isso e concordo, no sentido da Igreja comunhão. A Igreja que eu tento viver ao ir até o final de minhas forças para estar ligado ao grupo do Instituto Hélder Câmara, ao movimento de evangelização Encontro de Irmãos, ao MTC (Movimento de trabalhadores cristãos) e ainda à comissão de ecumenismo da arquidiocese. Mas, tenho consciência de que, além disso e além da opção de ser amigo e companheiro ao arcebispo Dom Fernando, não consigo mais do que isso. Mesmo com o papa Francisco, sinto a maior parte da minha Igreja e da minha ordem beneditina ainda afundada no triunfalismo clerical, em uma cultura autocentrada e em valores que não são o Evangelho de Jesus. Não posso e não quero romper com eles até porque eu mesmo vejo em mim o pecado e a tentação permanente do poder e da vaidade, mas me sinto muito impotente. Minha única consolação é mergulhar cada vez mais na inserção junto aos mais empobrecidos - é junto aos pequeninos de Deus que encontro o rosto e o carinho de Jesus. Graças a Deus.