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Conversa, quinta feira, 20 de novembro 2014

É muito difícil a gente ver uma pessoa amiga se autodepreciando, se punindo a si mesma por algo que não adianta punir-se e não se poder fazer nada.

De todo modo, por mais que eu seja obrigado a respeitar os limites e neuroses do outro, não posso deixar a pessoa se destruir. E existem situações na vida que parecem paralisias. A pessoa não parece ter condições de se mover. E a impressão é de que nada dá certo, como se não existissem alternativas. E isso é contagioso. Se não tomarmos cuidado, esse negativismo agarra como uma meleca no nosso ser e nos puxa para baixo.

Há muito tempo, eu vi na minha família uma situação bem semelhante. A casa dos avós era um aglomerado de filhas descasadas, netos para criar e pessoas que não cresceram o suficiente para se tornar autônomas. Economicamente, tudo pesava nas costas de uma só e que era pobre. Tentei ajudar. Parecia-me que a melhor sugestão era tirar o casal de avós daquela situação que os adoecia. Mas, eles mesmos reagiam explicando que isso era impossível por isso e por aquilo. Então, eu propunha dividir a casa em duas - Impossível também. Nada dava certo. Nenhuma alternativa era possível. Um dia, o velho morreu e pouco tempo depois ela seguiu. Em quinze dias, a casa foi esvaziada, todas as pessoas encontraram outro lugar e tudo se resolveu... Foi preciso o pai e a mãe morrerem para a família se reequilibrar. Que coisa terrível! 

Será que a fé não ajudaria a pessoa a se comprometer consigo mesma em não se deixar estacionar e permanecer acomodada em si mesma e em situações assim, como um carro enterrado na lama? Como ajudar a ver que mesmo se toda solução tiver seus limites, é melhor errar tentando e procurando o novo do que não buscar mais nada. 

E como desentupir o espírito de alguém para o diálogo, quando a pessoa não se propõe a isso? 

Hoje celebramos a luta pela libertação do povo negro. Peço a Deus que nos dê sempre a força de nos libertarmos de nós mesmos e de nossos próprios condicionamentos. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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