Amanhã viajo de volta ao Brasil, uma viagem longa que durará o dia inteiro: de Verona a Roma, de Roma a Lisboa e de Lisboa a Recife. Hoje penso que acabei minha participação no livro junto com Antonieta Potente, amiga e teóloga, sobre a vida religiosa na Igreja de hoje. Agora à noite me despeço dessa temporada de frio na Itália indo participar de uma peça teatral de um grupo profissional de Verona e que quiseram dedicar a mim o espetáculo dessa noite em um teatro da cidade. A peça se chama "A carícia do papa e a lua" e o texto é do meu amigo Marco Campedelli que é pároco com Roberto Vinco em uma paróquia central de Verona. Sempre me hospedo aqui com eles. Marco é padre e desde jovem, artista profissional de mamulengos. O espetáculo "A carícia do papa e a lua" mistura cenas de teatro adulto e com atores e ao mesmo tempo cenas de teatro de bonecos. Baseia-se no famoso evento da noite de 11 de outubro de 1962 em Roma. Pela manhã, o papa João XXIII havia aberto o Concilio Vaticano II com uma missa e com o famoso e belíssimo discurso: "Alegra-te, mãe Igreja!". Depois, o povo não quis ir embora. E ficou uma multidão na praça de São Pedro. Todos com velas acesas cantavam e como que aguardavam alguma coisa. No céu, uma lua cheia belíssima.
Ouvi contar esse episódio da boca de Mons. Maurice Capovilla, hoje com 94 anos, naquele momento, secretário particular do papa João. Ele me contou que se aproximou do papa - eram pelas oito da noite - e lhe disse que a praça era cheia de gente e o pessoal queria ao menos ver o papa. João XXIII já idoso e doente respondeu que estava muito cansado e não tinha mais o que dizer à multidão. Já havia falado de manhã. Mons Capovilla insistiu para que o papa fosse ao menos até a janela para ver o espetáculo. Ele cedeu, foi e ao ver a lua e a multidão de velas acesas na praça, se comoveu e falou de improviso:
"Queridos irmãos e irmãs, até a lua veio para a nossa festa hoje. E com sua claridade, ela nos saúda e diz que está feliz. O papa está cansado e agora abençoa a vocês todos. Voltem para casa e ao encontrar um ente querido, seu filho ou filha, seu irmão ou irmã, seu marido ou esposa, lhe façam um gesto de carinho e digam que foi o papa que mandou esse abraço ou beijo para eles".
A multidão delirou e o papa lhes deu sua bênção. A peça de Marco se baseia nesse episódio e se chama A carícia do papa e a lua.
Vou participar sim e espero que não me peçam para falar. Não quero me emocionar e não preciso dizer a ninguém que desejaria muito que os responsáveis maiores por minha Igreja hoje voltassem a dialogar assim com a humanidade, com o coração e como irmãos.
(Um irmão (anônimo) escreveu um comentário ao meu texto de ontem, estranhando que o evangelho de João tem apenas 21 capítulos e a citação de Sto Agostinho se referia ao 26, 4. Já expliquei em uma resposta a ele que esse 26, 4 não se refere ao evangelho de João. O texto é do Comentário de Sto Agostinho ao evangelho de João, capítulo 26 - do texto de Agostinho, parte ou verso 4. De todos os modos, obrigado pelo comentário que me dá possibilidade de explicar melhor).