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Conversa, quinta-feira, 25 de agosto 2016

Os jovens que estão me ajudando a renovar o meu site me pedem que lhes mande uma lista de todos os meus livros, com os dados da editora, etc. Compreendo que faz parte do trabalho de comunicação. Mas, tenho dificuldade de fazer isso. Primeiramente, porque não dou tanta importância a esses livros. Vários deles nasceram em determinado contexto e esse momento histórico passou. Nesse sentido, são datados... Sou velho, mas meu tempo é agora e não adianta ficar falando dos livros dos anos 80 ou 90. Do outro, quando revejo esses livros, me bate certa angústia. Tenho sempre vontade de corrigir, de melhorar... Leio uma página e digo porque eu não disse também tal coisa e não acrescentei isso e aquilo... Mas, já está escrito e publicado. Não me pertence mais. É como um filho que se tornou autônomo. Cumpre sua missão, mas eu já não tenho mais responsabilidade nisso. Os livros que me ocupam são os que estão em minha mente e no meu coração... As coisas muitas que eu quero lhes falar, de coração a coração, de irmão a irmãos/ãs. Mas, essas coisas, nem todas estão prontas a serem ditas e algumas delas só poderão ser expressas com sangue, suor e lágrimas... Outras se resumem em poucas palavras: "Eu te amo". Mas, como explicar?

Nesses dias, leio e medito crônicas do padre Daniel Lima, filósofo e amigo de Dom Helder Camara e avesso à publicidade e à relação com público. Ele dizia: "Para mim, cinco pessoas já constituem multidão". Mas, na intimidade do seu quarto, escrevia coisas lindas e profundas. Hoje li um texto que diz assim:

"Tento sempre conversar com Deus. Falo com Ele. Insisto.

Ele, aqui e acolá, responde. Ou resmunga. De qualquer jeito, antes que a gente desista, Ele dá um sinal de que está ouvindo. Ele fala por símbolos, pausa, aparente ausência. Eu continuo falando, falando. Ele responde silenciando. A certa altura, sinto como se o diálogo tivesse virado monólogo. Assim também é demais, penso. Levanto-me saio, vou embora para longe d'Ele. Com Ele".

(do livro Do meu tamanho , Recife, Ed. CEPE, 2015, p. 51).  

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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