Hoje, eu subscrevi um movimento italiano coordenado por alguns amigos meus. Riccardo Petrella é um cientista político. Pertence ao grupo de Lisboa e é professor na Universidade de Bruxelas. Ele coordenou um movimento internacional para, em todo mundo, tornar ilegal essa organização social que provoca a pobreza. O movimento se chama "Declaremos ilegal a pobreza". E o movimento se baseia em alguns princípios:
1 - Ninguém nasce naturalmente pobre nem escolhe ser pobre.
2 - As pessoas se tornam pobres. A pobreza é uma construção social. Então não existe pobreza e sim empobrecimento, exploração.
3 - O empobrecimento é produzido pela exclusão social.
4 - Como é estrutural, o empobrecimento é coletivo.
5- O empobrecimento é fruto de uma sociedade que não crê nos direitos à vida e à cidadania de todos, nem da responsabilidade política coletiva para garantir os direitos a todos os habitantes da terra.
6 - Não existe luta contra a pobreza sem que se lute contra a riqueza injusta, desigual e predatória.
7 - Não adianta combater os sintomas. A doença só se cura se se combatem as causas.
8 - O empobrecimento, hoje, é uma forma de escravidão. A sociedade opressora rouba dos empobrecidos a sua possibilidade de uma vida humana e humanizada, assim como seu futuro.
9 - Nem tudo o que é legal é justo e nem tudo o que é justo é legal. É preciso acabar com as leis que legitimam a concentração da propriedade, os privilégios de uma elite contra os direitos à vida, à dignidade humana, à alimentação, à habitação, à saúde e à educação da maior parte da humanidade.
10 - A luta contra a pobreza injusta é uma luta política, mas seu fundamento é ético e espiritual.
Tenho a impressão de que, de tal forma, nós vivemos em uma sociedade na qual essa situação parece normal e natural que nem nos damos conta. Eu moro no Recife. Para mim que estou aposentado, como posso me dar conta do que é a vida de um trabalhador que tem todos os dias de sair de casa às quatro da madrugada (nas cidades satélites do Recife, como São Lourenço, Paudalho e outras) para tomar o ônibus e ir trabalhar em Suape e voltar à noite. Um deles me dizia que a cada dia, para trabalhar e ganhar um salário de miséria, precisa fazer duas horas e meia de ônibus para ir e duas horas e meia para voltar. Quem se mobiliza de carro não sabe o que é isso e não se dá conta de que vivemos como se existissem duas humanidades, uma que é minoritária e a qual tudo é concedido e a outra que sobrevive nessa vida severina em função de que e por que?
A celebração do Natal de Jesus nos chama a nos comprometer a fazer todo o possível para mudar essa situação.