Queridos irmãos e irmãs,
Nessa véspera de ano novo, procuro revolver no coração e ruminar as palavras de esperança que tenho recebido de tantos amigos. Todos nos têm proposto para nutrirmos a esperança como arma de proteção e de ajuda para as pessoas nesse ano novo. Como todos vocês, ligo isso com a nossa fé.
O evangelho lido nas Igrejas nesse 31 de dezembro, véspera da oitava do Natal, é o prólogo do quarto evangelho: “No princípio era a Palavra... Nela estava a Vida e a Vida é a luz (a lei) da humanidade e a luz resplandece nas trevas e as trevas não conseguem jamais encobri-la.
Atualmente, no Brasil e por aí pelo mundo, as trevas têm poder e dominam em uma extensão grande dos poderes da sociedade. Na América Latina, o bolivarianismo está moribundo e não sei se os governos ainda bolivarianos (Bolívia, Equador e Venezuela) por quanto tempo ainda conseguirão sobreviver e avançar. No entanto, cremos no evangelho: as trevas jamais conseguirão aprisionar a luz.
Nessa noite de ano novo, lerei a profecia de Isaías que era a primeira leitura da missa da noite de Natal:
O povo que vive na escuridão verá grande luz.
As pessoas que moram em região deserta,
Luz resplandecerá sobre elas...
Tu, (ó Deus), preencherás a vida do povo,
Aumentarás a alegria... Diante de ti, se alegrarão
Como na alegria da colheita
Ou como se regojizam os guerreiros
ao repartir os despojos.
Eis que a carga que pesa sobre eles
A vara sobre os seus ombros, o porrete de quem o oprime,
tu os espantarás como no dia de Madiã
(dia em que os hebreus em pequeno número venceram os madianitas). (...)
Pois eis que uma criança nos foi nascida...
Um filho nos foi dado... (Isaías 9, 2- 5).
Quando Isaías compôs esse poema, se referia à esperança concreta do nascimento de uma esperança nova de libertação para o povo ameaçado pelos impérios da época (a tal criança teria sido o rei Ezequias, filho de Josias). Nós, cristãos, a aplicamos a Jesus.
Mas, sobre isso, Milton Schwantes escreveu:
“O Novo Testamento relaciona Isaías 9, 1- 6 a Jesus. (...) Mas, é inegável que a esperança que se articula em Isaías 9, 1- 6 é política. Espera por um governante que realiza paz (shalom), direito (mixpat) e justiça (sedaqah). Dentro da Igreja, essa esperança concreta e política nunca foi totalmente apagada. Mas, por certo, a História da Igreja também dá amostras suficientes de como essa esperança em prol da sociedade foi sendo relegada a um segundo plano. A acentuação unilateral do além tende a eliminar a esperança para o aquém. Contudo, isso não significa que a esperança política deixou de existir. Ela foi, isso sim, marginalizada na Igreja. Mas, desenvolveu-se com vigor fora da Igreja, em sistemas políticos. O marxismo é um tal sistema que reativa a esperança. Na esperança que propõe à sociedade reside, sem dúvida, uma de suas grandes forças. A pergunta é, se a comunidade de Jesus necessariamente tem que marginalizar a esperança política e tem que delegar a esperança política a sistemas ideológicos. (...) Seríamos infiéis ao texto bíblico de Isaías 9 se a esperança política – a esperança para o mundo – não voltar a ser reintegrada à fé em Jesus”[1].
É isso que me proponho a viver nesse ano novo e é isso que desejo a todos nós como grupo e como Igreja.
Nessa esperança messiânica, mas também bem histórica, sem medo de ser feliz, um abraço carinhoso do irmão Marcelo
[1] - MILTON SCHWANTES, Da vocação à provocação, Estudos exegéticos em Isaías 1 – 12, São Leopoldo, Editora Oikos, 2011, pp. 394- 395.