Uma chamada telefônica que recebi pela uma da madrugada me informava: Dom Tomás, amigo e pai espiritual, patriarca e profeta dos pobres, dos lavradores, dos índios e de todos os oprimidos, padrinho da teologia da libertação, havia partido ao encontro definitivo com o Pai.
Eu tinha estado com ele há uma semana. Nos dias recentes, estive com ele duas vezes. A primeira antes de ir celebrar o Tríduo Pascal em Goiás. A segunda quando voltei da festa da Páscoa e na terça feira, passava em Goiânia. Há pouco mais de uma semana, vi que a situação era muito grave, mas o encontrei animado e principalmente me impressionou a sua energia e seu interesse pela causa dos lavradores e tudo o que dizia respeito à renovação da Igreja. Tinham me dito que a gente deveria evitar que ele falasse, mas como fazer isso se ele encarnava a própria palavra profética de Deus a me mostrar como se pode ser jovial aos 91 anos e viver até o último suspiro pensando e vivendo para os outros?
Na semana santa, ele me confirmou e aprovou o prefácio que em janeiro havia ditado para o meu novo livro (sobre os salmos). Foi ele que puxou o assunto quando eu queria poupá-lo. E ele me fez ler de novo o prefácio dele e a minha introdução e no final nós dois estávamos comovidos. Desde que ele recebeu o livro ainda em folhas impressas no computador, ele pediu às pessoas que ficavam com ele que, cada dia, lessem um salmo, seu comentário e a oração de outra tradição espiritual que eu havia colocado como introdução à oração do salmo. Quando o revi na terça da Páscoa, ele me disse: Você colocou poucas orações dos nossos índios e negros. E dizia isso fazendo grande esforço de falar. Tentei explicar: Mas são tradições de cultura oral. É difícil encontrar textos, orações escritas.
Ele me respondeu: Se você procurar mais, encontra!
Esse era o nosso Tomás. Acordava de um estado de pré-coma e perguntava: Vocês têm notícias da assembleia da CNBB? Será que conseguiremos que aprovem o documento novo sobre os problemas da terra no Brasil?
Agora, no céu, ele estará cuidando mais diretamente junto de Deus de todas essas causas. Eu morei com ele vários anos, devo a ele a confiança que sempre mostrava ter comigo e que sempre me impulsionou a ser melhor. Nos seus últimos anos como bispo de Goiás, me pediu para ser seu vigário geral e eu fui tão precariamente (viajava muito para quem tem uma missão local), mas nunca ele se queixou e, ao contrário, sempre me instigou na missão mais ampla do reino. Continue intercedendo por nós, Santo Tomás Balduíno, profeta dos pobres e discípulo que se tornou semelhante a Jesus.