Em Igaraçu, em um centro dos focolarinos (Mariápolis) estou assessorando o retiro anual dos leigos da arquidiocese do Recife. Uma experiência para mim diferente e enriquecedora. Umas 70 pessoas, homens e mulheres, gente mais velha, mas também alguns jovens. Vindos de vários movimentos católicos atuais presentes na arquidiocese. Obra de Maria, Movimento da mãe rainha, Movimento Chama, etc. Pedi para escrever quantos. Deu mais de vinte. Alguns eu tinha ouvido falar. Outros nem sabia que existiam. Como o retiro que faço sempre parte da realidade do grupo, de suas questões e desejos, no começo, me senti muito perdido. Percebi claramente que eles (a imensa maioria) nunca me escolheriam como pregador do retiro deles. Foi Dom Fernando, o arcebispo, que sugeriu ou propôs meu nome e eles aceitaram. Mas, eu acho que mesmo isso, aceitaram porque muitos não sabiam direito quem eu sou e o que penso. Tentei ser o mais possível ecumênico, como sou quando estou com grupos de outras tradições espirituais. Escutei-os com amor e com compaixão, não no sentido de pena, mas de solidariedade. A primeira coisa que me surpreendeu foi a seriedade da fé e do amor a Deus por parte de vários. Um senhor - soldado do corpo de bombeiros - homem de oração permanente - pai de família centrado na oração e na consciência de uma consagração. Muito mais do que muitos monges e monjas que conheço. Eu mesmo me senti interpelado. Um outro também pai de família, me deu a impressão de uma profunda opção espiritual. Uma senhora ficou no mesmo quarto de minha irmã. Penha me contou que a viu ajoelhada na beira da cama de braços elevados orando. Penha dormiu. Acordou de manhã e a moça parecia não ter se levantado a noite inteira. Senti essa seriedade de pertença, esse amor a Deus e à Igreja, essa busca espiritual profunda em 99% das pessoas aqui reunidas. É claro que um problema é que parecem viver isso como se o mundo não existisse e o que está acontecendo lá fora pouco interessasse. E eu não posso não partir daí. Pedem para eu dar uma palavra em nome de Deus. Tenho de falar disso. Mas, a maioria dos monges e monjas beneditinos que conheço são assim e acham isso muito natural. Hoje, não vivo em mosteiro, em grande parte, por causa disso. Vários me falaram de um novo Pentecostes em sua vida e na Igreja. Parti daí. Um novo Pentecostes na Igreja foi o Concílio Vaticano II cujos 50 anos estamos celebrando. Então parti daí e fiz o dia de retiro sobre a palavra de Deus hoje, nesse cinquentenário do Concílio. O que significa hoje voltar às fontes e o que significa adjornamento - atualização - as duas propostas do papa João XXIII ao Concilio. Não sei se consegui agradar, mas pareceram escutar-me com atenção e até abertura. O que vai resultar a gente nem sabe. Só Deus. Mas, eu voltei tocado e pensando em uma série de coisas.