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Conversa, sábado, 11 de janeiro 2014

Estou em São Paulo para embarcar a Lisboa, onde vou assessorar um encontro de missionários da Consolata e dar algumas palestras sobre Ecologia e Espiritualidade. Deixei o encontro das Cebs em Juazeiro do Norte com pena de perder o último dia e portanto o tempo das decisões e planejamento. Achei o encontro excelente em vários aspectos. Gostei de ver a juventude de novo nas Cebs. Antes dava a impressão de que comunidades eclesiais de base eram coisa para gente mais velha. Gostei de ver muitos índios e ativos e amando a sua cultura e com consciência social e política incríveis. Gostei de ver a integração latino-americana. Gente de vários países do continente. As questões que levanto são mais sobre o fato de me perguntar que continuidade existe entre um encontro como esse e o dia a dia das comunidades locais. Tomara que tenha. Também me pergunto se poderíamos chegar a um compromisso um pouco maior entre o caráter celebrativo do encontro (que é bom e necessário) e a dimensão reflexiva que permita aprofundar algumas questões e não só festejar e celebrar. 

Além disso,  como ajudar o pessoal a ser mais ecumênico em todos os sentidos? Abrir-se mais aos evangélicos e de outras religiões presentes no encontro? Tive a impressão de que foram bem acolhidos, mas pelo fato de entrarem na nossa e não para serem eles mesmos e a gente abrir-se a aprender com eles. Isso é pena. 

Também mesmo no ponto de vista ideológico. Ainda há muita rigidez e inflexibilidade confundidas com radicalidade que é outra coisa. É claro que temos um governo de esquerda fazendo uma política de direita (privatizando tudo, etc), mas é importante discernir mais as coisas e principalmente pensar que alternativas temos pela frente. No plano da Igreja, é a mesma coisa. Fiquei encarregado pela equipe de coordenação de redigir uma carta do encontro das Cebs ao papa. Escrevi a carta e junto com uma equipe de quatro assessores que colaboraram bem. Um bispo me procurou e fez questão de ler a carta antes de tudo para ver se aprovava. Se nao aprovasse a carta nem seria lida para consulta ao povo. Por outro lado, quando acabei de ler, recebi várias críticas, O que percebi é que cada um queria acrescentar o seu trabalho. Mas, como em uma carta de duas páginas? E a coordenação achou importante dizer ao papa que nesse encontro das cebs não tinha só presentes o pessoal de base. Tinha quase cem bispos, centenas de padres, religiosos/as, etc... Li isso e um padre que conheço bem caiu em cima de mim gritando: Até você se vendeu à iniquidade da cúria. Essas classificações de padres, religiosos, bispos, isso tudo é paganismo romano. Não está no evangelho de Jesus. E eu tentei responder: Veja, se eu falo com um brasileiro tenho de falar em português, se falo com um francês, devo falar em francês. A carta é ao papa e a gente já o chama de bispo de Roma e primaz da unidade e não de Santo Padre, etc. Mas, o pessoal achou importante que ele saiba o tipo de gente que está aqui. Inútil. Ele saiu com raiva e me acusando de ter traído o evangelho. 

Saí rezando e pedindo a Deus a graça de nunca me fechar nas minhas certezas e sempre dialogar com o diferente. Quanto ao que ele me disse, vou pensar sim se ele não tem alguma razão e eu não ando mesmo decaindo da missão profética que Dom Hélder me deu.

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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