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Conversa, sábado, 14 de junho 2014

Vigília do domingo no qual a Igreja Católica celebra a festa da Santíssima Trindade. Desde minha formação de jovem no mosteiro de Olinda, aprendi que a liturgia celebra fatos e memória de nossa salvação e não ideias. As chamadas festas dogmáticas (Trindade, Corpus Christi) são medievais, criadas em uma época na qual a Igreja inventava essas festas para combater heresias e firmar posição no mundo. De todo modo, toda celebração é um louvor ao Pai, através de Jesus, como mediador e na unidade do Espírito Santo. Portanto, toda celebração envolve a Trindade. Essa forma de falar de Deus não é muito simpática, mas nos recorda de que Deus não é alguém  isolado. É comunhão e como comunhão de pessoas diferentes, é inclusão e nos chama a participar de sua vida divina.

Sempre me lembro da palavra do Leonardo Boff: "A Santíssima Trindade é a melhor comunidade" e  deveria ser modelo para o modo de ser da Igreja e de nossas comunidades. Uma plena comunhão igualitária e não hierárquica de pessoas diferentes, mas complementares. Será que algum dia, depois de tantos séculos de uma concepção piramidal, hierárquica e mesmo monárquica dos ministérios eclesiais de coordenação, conseguiremos organizar a Igreja do jeito da Santíssima Trindade?

Em um mundo diversificado como o nosso, será que conseguiremos perceber que a diversidade que existe entre nós tem sua fonte no jeito de ser do próprio Deus que é amor, mas se manifesta de mil formas, a cada grupo humano de acordo com sua cultura, na diversidade de nomes (Olorum, Alá, Krishna, etc) e na diversidade de formas de se relacionar? 

Quando olho meu itinerário de vida, me dou conta de que, em todos esses anos, o eixo central de minha vida (ao menos o que eu mais queria) sempre foi a busca de Deus. E essa busca é resposta ao fato de que em primeiro lugar é Deus que busca a gente. Então, como reciprocidade, a gente o busca. E quando jovem, eu o buscava fora de mim, em imagens externas. Nos últimos anos, aprendi a buscá-lo dentro de mim, no mais profundo do ser interior. Mas, principalmente nos irmãos e irmãs. Sempre me toca muito a palavra do teólogo alemão D. Bonhoeffer: "O Cristo que está em mim está em mim para você e o Cristo que está em você está em você para mim. O Cristo que está em mim, para mim, é fraco. É forte para você e o Cristo que está em você é fraco para você e forte para mim".

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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