Blog Aqui vamos conversar, refletir e de certa forma conviver.

Conversa, sábado, 21 de julho 2012

Queridos irmãos e irmãs, 

Hoje, encerrei minha contribuição no 6° encontro das Cebs do Nordeste, aqui em Itabuna. Como assessorei um dos cinco plenários temáticos, me colocaram em uma sala que cabia 50 pessoas. Na hora, chegaram mais de cem. Certamente pelo tema que atraiu muita gente de base: "como ser profeta no mundo e na Igreja hoje". 

Minha maior recompensa nesse tipo de trabalho é ver depois de um dia e meio de assessoria, a alegria de todos e o fato de parecerem animados e encorajados/as para a luta cotidiana que não faltará. Percebi que de todas as partes do nordeste, veio um clamor de insatisfação e frustração com a maioria dos padres e bispos que se negam a viver o evangelho como profecia (talvez queiram vivê-lo em outro estilo, por exemplo, mais sapiencial, mas não como profecia e o evangelho é essencialmente profecia. E como ser profetas e ser contestadores com relação ao mundo, mas não ter coragem de ser críticos com relação à própria Igreja? E olhando aquela pequena multidão de homens, mulheres, jovens, dizendo sua indignação, eu me pergunto: Se a Igreja de hoje perdesse as comunidades eclesiais de base e as pastorais populares, o que restaria dela? As missas shows? as vendas de discos e livros dos padres famosos da televisão? Que lugar e função a Igreja ainda ocuparia no mundo de hoje, no seio dessa sociedade? Que credibilidade ela ainda teria? Por que eu recebi hoje o convite de representantes da ALBA (Aliança Bolivariana dos povos) para estar na recepção que a ALBA fará ao presidente Hugo Chávez, no dia 31 próximo, na embaixada da Venezuela, em Brasília? Por que ele pediu ao pessoal que incluísse meu nome nessa conversa? Por que eu digo a ele que não basta esse entrosamento dos países e estados a partir de instituições como Mercosul, Alba, Unasul e CELAC que são todas de cúpula, mas é preciso a integração latino-americana a partir das comunidades populares e dos movimentos sociais? Será que é pelo fato de que eu estarei lá nessa conversa tendo comigo os companheiros do MST? E por que a maioria de meus irmãos padres e bispos parece preferir não se comprometer com esses sinais dos tempos que são evangélicos? 

Aqui nesse encontro de cebs, encontrei dois pastores batistas, inseridos nas comunidades e como assessores. O pastor Marcos Monteiro é natural do Recife, como eu e foi aluno em algum curso por aí do nosso mestre comum, o padre José Comblin. O outro, o pastor Jorge Neri é de Feira de Santana. Eles me falaram do movimento de renovação e de abertura de um bom setor da Igreja Batista à Teologia da Libertação. Aleluia! Hoje à tarde, em um momento breve no qual tive oportunidade de dar uma palavra à assembléia das cebs, como assessor, falei desses evangélicos presentes e perguntei: Vocês acham que eles são ecumênicos porque entram na nossa? Outro assessor havia comentado o cântico muito cantado nos ambientes das cebs: "Entra na roda da gente também...". E eu perguntei: tudo bem, eles se abriram e entraram na nossa. E nós, católicos, estamos sendo ecumênicos com eles, se nos mantemos inalteráveis e não mudamos nada e eles é que devem se adaptar a nós? Eles ficaram aqui conosco três dias. Será que tivemos a abertura espiritual para querer aprender alguma coisa deles, ou achamos que temos tudo e nada temos a aprender dos outros irmãos que vivem a fé de forma diferente da nossa? 

Eu mesmo tenho me rever nesse ponto e pedir a Deus a graça de me abrir cada vez mais ao outro/outra. E só assim cumpriremos o que Jesus pediu ao Pai: que todos sejam Um para que o mundo creia.

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

Informações