Dia cheio de encontros de amizade, comunicação e a celebração do Natal do MPC (movimento de profissionais cristãos), intelectuais e profissionais liberais que desde jovem vivem e expressam a fé, embora tenham (ao menos alguns deles) dificuldades de participar de uma comunidade convencional de paróquia. Vejo o rosto desses companheiros e companheiras. Leio nos seus olhos muita luta, algumas dores, mas sempre esperança e decisão de viver em comunhão. É Natal. O encontro nem sempre fácil de ser vivido da mensagem maravilhosa da vinda do Senhor e do anúncio do seu reino sobre o mundo e, por outro lado, a realidade concreta da fragilidade e das contradições do dia a dia (do presépio com suas palhas). Hoje, a antífona Ó nos faz chamar Jesus de "rei das nações". Uma linguagem perigosa que na história acarretou tanta coisa errada como por exemplo confundir o reino de Deus e o domínio da Igreja ou da sua hierarquia. Recebi hoje um material da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Presidência da República. Sou feliz de fazer parte desse grupo, especificamente na comissão pela diversidade religiosa. Neste Natal, celebro a vitória do governo bolivariano na Venezuela (dos 23 estados, ganhou em 20) e a resistência do presidente Chávez em sua doença. Recebo também a recensão do meu livro sobre o evangelho de Lucas em italiano. Um teólogo italiano escreveu uma recensão muito positiva. Eis a tradução brasileira do que ele escreveu em italiano:
Recensão do livro
Boa notícia para todo mundo
(conversa com o Evangelho de Lucas)
Existem muitos comentários ao Evangelho de Lucas, mas este, feito por um monge beneditino, ex-colaborador de Dom Hélder Câmara e membro da Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo, inserido nas comunidades eclesiais de base do Brasil, é realmente muito original, tanto pelo seu estilo como por seu método. De fato, o autor imagina dialogar com o próprio evangelista e todo o livro, que percorre do início ao fim o terceiro evangelho, é uma série de perguntas, respostas e reflexões do autor, de Lucas, (isso é, de respostas que Marcelo Barros põe na boca do evangelista) e de pessoas ou grupos brasileiros que intervêm na conversa como se fosse uma sala de bate-papos na internet. O resultado dessa comunicação “em rede” é um aprofundamento do contexto religioso e cultural no qual o evangelista escrevia e, da parte de Marcelo e de seus amigos e amigas brasileiros, uma contínua tensão entre a palavra e o esforço de contextualizá-la na situação do Brasil e da América Latina para expressar aqui e agora, palavras de sentido que de uma parte nos liguem a Jesus e da outra à crua realidade de um povo que, entre muitos problemas, dúvidas e esperanças, procura sua libertação.
Nas perguntas e respostas, Marcelo Barros é muito preciso em dar elementos essenciais do método histórico-crítico para assim fazer uma exegese adequada das Escrituras e também muito sábio em indicar como, nas concretas situações da vida, se possa descobrir a perenidade e a novidade do ensinamento de Jesus. As intervenções das pessoas a Marcelo ou a Lucas marcam o conjunto do livro e lhe dão o sabor do cotidiano e da experiência da vida. De fato, é um livro cativante, original e muito instrutivo.
David Gabrielli[1]
[1] - Davi Gabrielli é italiano, teólogo especializado em ecumenismo e vive em Roma.