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Conversa, sábado, 23 de agosto 2014

Depois de uma semana de atividades no Centro-oeste, estou em Belo Horizonte, onde participo hoje da celebração eucarística pelo aniversário de 70 anos de frei Betto, meu irmão e amigo desde a juventude. Fiz um esforço grande para vir aqui e estar presente, mas faço questão disso, primeiramente para sempre privilegiar as relações de amizade e comunhão gratuita e não as de trabalho. Além disso, é uma forma concreta de agradecer o tanto que, ao longo de tantos anos, tenho recebido dele como testemunho de fé e de profecia, assim como tenho aprendido nos tantos encontros que tivemos e temos, seja no grupo Emaús (nosso grupo de teologia), seja em atividades de Cebs e outras. Não tenho e não cobro de mim o carisma que Betto tem para a dimensão política, a capacidade de análise e a clareza de opções (nisso, o acho genial). Não tenho o tato dele para as relações com gente de poder. Tenho alguns contatos de amizade, mas não sei cultivar isso e me aceito como sou. Assim como ele, me sinto viciado em escrever. Desde adolescente, peguei esse vício e não consigo me libertar dele. Escrevo quase sem parar e isso no meio de viagens, de compromissos pastorais, de doenças, de tudo. Betto também é assim. Também como ele, eu tenho como missão que amo muito acompanhar grupos de leigos na espiritualidade. Ele tem mais do que eu. Penso que acompanha grupos em Sao Paulo, no Rio e em BH. Eu tenho um grupo no Recife (atualmente o grupo da partilha que era de Dom Helder) e um em Brasília. Além disso nós dois acompanhamos sempre que nos é pedido, o MST e outros movimentos sociais. 

Esse aniversário de Betto é para mim ocasião de me estimular na missão. Daqui há poucos dias, estarei viajando para pregar o retiro da prelazia de São Félix do Araguaia. Deve ser a sexta ou sétima vez que faço isso ao longo dessas décadas. Mas, agora já há uns cinco anos, não voltava lá. A última vez foi em 2008. Voltei com pneumonia, depois de viajar três horas de barco no rio Araguaia e na chuva. Dessa vez, sei que deverei ir de carro em estrada de terra de Palmas até Sta Terezinha. É quase todo um dia de viagem. Depois cuidarei dos meus pulmões que têm insuficiência respiratória. Agora, é momento da missão e basta. Vou me preparar bem para não ficar doente. E conto com a força do Espírito Santo. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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