Hoje, aqui em Verona, se encerra o festival de cinema africano. E a comissão organizadora soube que eu entendo de cinema e me convidou para falar na cerimônia de encerramento. Respondi que receberam uma informação errada. Gosto muito de cinema, mas não entendo absolutamente nem de técnica cinematográfica, nem de direção. Nada. Apenas amo o cinema. Insistiram e eu aceitei não falar, mas dar uma entrevista e não sobre o cinema africano que não conheço e sim sobre a interculturalidade, a importância do diálogo entre as culturas e como o Cinema, como a música podem e devem ser instrumentos de comunhão e de relação entre as culturas. Saio daqui há pouco para fazer isso, o que significa aceitar subir ao palco de um cinema importante daqui e conversar em italiano com o apresentador da noite. Que Deus me ajude.
De todo modo, sinto uma tal simpatia por esses realizadores de países pobres que fazem filmes por teimosia, sem dinheiro e sem apoios oficiais e assim mesmo realizam verdadeiros poemas em imagens (eu vi ontem pela manhã dois, um curta metragem marroquino e um longa de Argélia). E o fato de que os migrantes africanos que estão aqui na Itália fazem iniciativas como essa significam duas coisas: a primeira é que continuam amando sua pátria, suas culturas e as trazem aqui para mostrar e para que os europeus as conheçam e valorizem, mas também há um aspecto pessoal que é de auto-alimentação, precisam desse ar para respirar. Aqui tudo é tão diferente que eles precisam se reabastecer com suas culturas originais para melhor sobreviverem.
Hoje à tarde, estive na casa de uma amiga daqui que é crítica de cinema e ela me propôs escrever um livro juntos sobre cinema, espiritualidade e cultura de paz. O livro se chamaria: "Do encanto da tela ao encontro do outro". Há anos, em Goiás, eu tinha escrito um livro nessa linha, mas não publiquei e um assunto como esse rapidamente fica superado. E não tenho conseguido acompanhar o movimento de filmes mais recentes. Será que poderei dar-lhe essa ajuda? E ainda por cima, no meio de tanta coisa a fazer? Mas, como dizer Não? Aceitei o desafio.