Hoje, passei a tarde com o grupo do Instituto Dom Helder Camara e o pessoal da paróquia de Dois Unidos em uma reflexão sobre as respostas que essa comunidade dará ao papa Francisco sobre o Sínodo sobre a Família e os problemas de ética familiar (em outubro). Ao ouvi-los, me veio a tristeza de constatar o quanto o que a Igreja hierárquica ensina e pensa sobre tudo isso está longe da realidade das famílias, mesmo das famílias católicas. Temos de orar ao Espírito Santo para abrir os corações para que possam ouvir o que o Espírito diz hoje à Igreja.
Amanhã, em Roma, o papa Francisco vai canonizar o papa João XXIII. E por exigência da cúria romana e para contrabalançar a figura santa, verdadeiramente profética e evangélica de João XXIII, vai também canonizar o papa João Paulo II.
É pena que chegamos a essa situação na qual os papas se autocanonizam. E o processo de canonização, iniciado no século XIII, continua com um conceito de santidade que não é evangélico (parece que santo é sinônimo de herói ou de pessoa perfeita). Além disso, o método é errado. Acaba apenas reforçando a autoridade do papa, no lugar de ressaltar que toda pessoa batizada é santificada pelo Cristo. Não penso que nem o santo João XXIII precisasse de canonização, como o padre Cícero, ou Dom Hélder Câmara, ou outro qualquer desses nossos santos e profetas não precisam.
E se canonização significa apresentar a pessoa como modelo de vida e santidade, certamente, hoje, a Igreja teria de apresentar como modelos, não tanto papas e sim homens e mulheres pobres, donos de casa e pais de família que são por seu exemplo testemunhas do reino de Deus.
Que o santo papa João XXIII, o papa do Concílio, interceda pela Igreja para que leve adiante a proposta que ele nos deixou: voltar às fontes da fé e atualizar a expressão da mensagem do evangelho.