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​Conversa, segunda feira, 01 de setembro 2013

No único dia em que passo no Recife, (cheguei ontem de Maceió e parto amanhã para Brasília), tive de atualizar meus compromissos, colocar em dia artigos, textos que tinha prometido enviar e o fiz hoje, além de responder a muitas mensagens. 

Gostei de que em Roma, o papa Francisco confirmou a mudança do secretário de Estado (uma espécie de primeiro ministro do Vaticano). Saiu o cardeal Bertone (em meio a todas as suspeitas e escândalos que pairam sobre a cúria) e entrou o arcebispo Pietro Parolin. É um italiano que, até pouco tempo, foi núncio, isso é, representante do papa na Venezuela. E hoje recebi uma mensagem do padre Nuna Molina, teólogo jesuíta de Caracas. A mensagem dizia que esse bispo (Parolin) é uma pessoa boa, simples e que fez um bom trabalho de aproximação entre Igreja e grupos abertos na Venezuela. Graças a Deus. Tomara que ele possa fazer um bom trabalho no Vaticano. 

Nesses dias, celebramos os 45 anos da conferência dos bispos de Medellín que deu à Igreja latino-americana um rosto próprio de Igreja nossa e inserida na realidade do nosso povo. Estou relendo as Conclusões de Medellin. Dá-me uma certa tristeza quando releio esses textos que hoje a gente gostaria de atualizar (porque já têm 45 anos) e de repente percebo que nem eles, hoje em dia, passaria em uma conferencia episcopal latino-americana. Quantos bispos de hoje, desses escolhidos por João Paulo II e Bento XVI assinariam esses textos que eram inspirados pela mística dos nossos grandes profetas, Dom Hélder Câmara, Dom Oscar Romero e tantos outros. 

Nesse final de semana, a Igreja dos pobres em Equador começou a celebrar os 30 anos do falecimento de Mons. Leônidas Proaño, bispo de Riobamba (diocese que eu conheço por ter assessorado um encontro lá) e pastor e profeta dos povos indígenas. Infelizmente, como passou a ser comum nos anos 80 e 90, o bispo que o substituiu destruiu todo o trabalho pastoral da diocese e os grupos que continuaram a pastoral indígena trabalham com ONGs e associações civis, sem o apoio da diocese. E o incrível é que no leito de morte, Monsenhor Proaño lamentava: "Tenho descoberto que minha Igreja que eu amo tanto foi em todo o continente a maior responsável pelo sofrimento dos índios. Que dor, meu Deus!". Disse isso e morreu. É muito sangue e muito sofrimento. Um preço alto demais para que hoje tudo se torne show religioso de gosto duvidoso e todo esse passado seja desconhecido ou ignorado por pessoas que banalizam a fé e fazem de Deus um ídolozinho mesquinho. 

Em um retiro recente que preguei para padres, um padre me procurou e me disse:

- Estou pensando em acionar o Procom. Sinto-me enganado. Entrei em um tipo de Igreja. Com essa Igreja me comprometi. Mas, o que agora estou vendo não é a Igreja na qual entrei e com a qual me comprometi. Sinto-me roubado... 

Respondi a ele: vamos lutar para honrar a herança dos santos padres da América Latina e viver a fé que eles nos testemunharam. 


Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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