Queridos irmãos e irmãs,
Por três dias, estou em Goiânia e me reencontro com essa região do Centro-oeste onde vivi 33 anos e tenho muitos amigos e amigas. Nesse tempo, já se percebe a seca e a falta de umidade no ar, principalmente para quem vem de Recife com um clima tão úmido.
Na paisagem do campo, nos chama a atenção os Ipês floridos. Em uma época na qual quase árvore nenhuma tem folhas e a natureza parece tão castigada (sem falar nas queimadas que já se observam aqui e ali), parece que o ipê resolve pagar os maus tratos com as flores mais belas, frutos do seu amor. Cobre a natureza de flores e de um cheiro suave que é sinal do seu carinho.
Essa visão contrasta com as notícias de que, além de Belo Monte e outras hidroelétricas, o governo está fazendo uma grande hidro-elétrica bem no lugar das famosas corredeiras do rio Teles Pires, na fronteira entre o Pará e o Mato Grosso, na terra considerada sagrada pelos índios Caiabis, Mundurucu e Apiacá, três povos já muito invadidos e prejudicados pelo tipo de civilização que os brancos impõem na região. O governo promete gastar ali 3, 6 bilhões de reais e já tem uma grande área de floresta destruída para dar lugar à vila dos operários e construtores. Serão 9.500 hectares de área de floresta inundada. E para os índios que ali veneram seus antepassados, essa destruição só trará desgraças para todos. É incrível como logo depois da Rio 92+ 20, ainda não se toca nem se muda esse modelo de progresso e parece que a vida dos indios e ribeirinhos pouco importa. As pastorais populares não conseguem mudar isso, mas ao menos denunciam e esperneiam. Sofremos juntos com elas e com os atingidos por esse modelo de desenvolvimento sem coração.