Estou lendo, relendo e devorando os novos tomos de cartas circulares de Dom Helder Camara, agora publicados como "Cartas posconciliares" e que cobrem os anos 67 e 68. Ele escreveu essas cartas como vigílias da madrugada e escreveu quase cada dia.
Embora muitos assuntos que ele aprofunda eram próprios daquela época, é impressionante como ele fazia questão de estar por dentro de tudo, desde a realidade política (especialmente do Nordeste), a relação pastoral com a arquidiocese, o apoio aos trabalhadores rurais na zona rural do Cabo, Escada e Moreno.
Mas, também estava por dentro dos acontecimentos culturais. Ia à televisão para ser entrevistado no programa do humorista Ronaldo Golias e acompanhava as canções concorrentes nos festivais da Record. E citava músicas do Chico, da Nara, assim como filmes e peças de teatro... Vejo raramente essa mesma abertura nos pastores da Igreja de hoje. De um lado, se pode pensar que cada pessoa é cada pessoa e ninguém tem obrigação de ter a mesma sensibilidade e acuidade artística do Dom. Mas, do outro, se trata de abertura a uma dimensão da humanidade que é importante para a juventude e que nos abre para além da Igreja e da religião.
Ontem à noite, tive um convite da amiga Vera Baroni para ir a uma festa de Xangô em um templo da religião afro em Dois Unidos. E prometi ir. Na tarde do domingo, comecei a sentir uma dor no olho operado (fiz cirurgia de catarata ha menos de uma semana) e embora não quis dizer nada a minhas irmãs que estão aqui comigo em casa (Penha e Mônica), preferi não sair à noite. Depois me arrependi e fiquei com pena de não ter podido dar esse testemunho de comunhão e amor aos irmãos e irmãs de Xangô. Tomara que quanto antes surja outra ocasião.