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​Conversa, segunda feira, 04 de novembro 2013

Acabei de voltar da 7a Caminhada do Povo de Terreiro. Foi um encontro das comunidades das diversas tradições afro-descendentes, presentes no grande Recife. Concentraram-se no Marco Zero, centro da cidade, mais de 4000 pessoas. Muita gente de várias tradições do Candomblé (Ketu, de Angola, Xambá e outros), tradição de Umbanda e tradição de Jurema (afro e indígena juntos). Cheguei no Marco Zero pelas três e meia da tarde. Já tinha muita gente. Pais e mães de Santo coordenavam um culto. Participei bem na frente. A mãe Elza de Iemanjá me convidou para subir ao palco e se quisesse falar. Mas, eu não achei que era real. Hoje a tarde deve ser de vocês e não do pessoal escutar um padre falando, ainda que se eu falasse, ia dizer que é verdade que a Igreja Católica discriminou, prejudicou, perseguiu as religiões afro e até hoje ainda há grupos que fazem isso. Diria que em nome da minha Igreja eu gostaria de pedir perdão a todos e me comprometer a sempre lutar para acabar com essas discriminações. Mas, achei que não era o momento melhor para dizer isso. Ainda há um clima de tal sofrimento que não basta pedir perdão. É preciso agir e trabalhar para mudar isso. Eu disse à Mãe Elza: se sentirem necessidade me chamem, mas eu por mim não me ofereço. Ela não me chamou e eu não fui. Fiquei embaixo, participei de tudo e voltei muito cansado para casa às sete da noite, mal a caminhada estava chegando na Praça do Carmo, onde, sem dúvida, haveria outra manifestação, mas aí eu não conseguia mais ficar de pé. 

Achei incrível que eu e minha irmã vimos o jornal local da televisão para ver se sairia alguma coisa sobre isso que parou o centro da cidade. Nada. Nenhuma palavra. É sintomático e significativo. Temos de mudar isso. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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