Nesses dias, recordamos dois aniversários significativos para a caminhada da América Latina e do Brasil.
Ontem, 15 de fevereiro é a data do assassinato ou martírio de Camilo Torres na Colômbia (1967). Ele foi um pioneiro porque, como padre católico, foi dos primeiros a perceber que a fé cristã é revolucionária e só se se luta pela transformação real do mundo e dos países se tem direito de dizer-se verdadeiramente cristão.
Contra o modo de pensar da hierarquia eclesiástica da Colômbia, ele tomou uma decisão radical: ingressou na guerrilha contra o poder opressor e ali deu a sua vida. Desde jovem, me marcou muito a sua palavra: "Deixo de celebrar a eucaristia no altar do templo para viver o que a eucaristia significa - a doação da vida - na luta pela libertação do meu povo".
É claro que podemos discordar do meio escolhido por ele - a guerrilha rural e urbana - conquistar o poder pela violência. Mas, mesmo o papa Paulo VI escrevia na encíclica Populorum Progressio que diante de uma ditadura forte e aguerrida, os cristãos têm o direito de, em último caso, recorrer à violência das armas (PP 31). Camilo Torres pensava que não é apenas uma questão de direito e sim de dever.
Não conheci pessoalmente o padre Camilo Torres. Li algumas de suas obras. Conheço e sou amigo do seu professor em Louvain: François Houtard, hoje com 90 anos, mestre de todos nós. Um homem que até hoje trabalha pela justiça. Depois de ter se aposentado na Bélgica, vive e trabalha com os índios no Equador.
O outro aniversário é hoje, 16 de fevereiro: centenário do nascimento de Francisco Julião, pernambucano como eu, grande líder das Ligas Camponesas no início dos anos 60 e que foi preso e teve de se exilar no México no começo da ditadura militar de 64. Morreu no exílio. Um homem admirável e que também doou sua vida aos lavradores. Que essas memórias nos fortaleçam no mesmo caminho da justiça e da construção de um país novo.