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​Conversa, segunda feira, 22 de julho 2013

A Telesur, emissora de televisão bolivariana da Venezuela para toda a América Latina (de língua hispânica) me convidou para vir ao Rio para comentar para a Telesur a visita do papa e a Jornada da Juventude. Respondi que não era a pessoa indicada para o trabalho que eles pediam. Não me sinto ligado a esses movimentos de massa, não gosto de centrar tudo na figura do papa e assim por diante. E propus nomes de companheiros que poderiam fazer isso melhor do que eu. Eles responderam que queriam justamente alguém com minha visão crítica e por isso me pediam para considerar e aceitar. Aqui estou eu no Rio para prestar esse serviço à Venezuela. 

Cheguei ontem à noite e ontem mesmo tive um encontro com a epe da Telesur que está no Rio para noticiar o evento. Hoje pela manhã vim trabalhar com eles. Para olhar tudo a partir da perspectiva dos mais pobres, colocaram o seu estúdio no morro de Santa Marta, no meio da favela. Uma dificuldade imensa, mas é a partir daqui que a Telesur funcionará. 

Durante toda a semana, chegarei diariamente pelas oito da manhã na Santa Marta e ficarei aqui até pelas dez da noite. É impossível descrever Santa Marta, um amontoado de casebres e barracos construídos morro acima verticalmente sem qualquer plano, sem nenhuma racionalidade, sem estruturas de nada. Telhado de uma casa e entrada da outra, abismo de um lado e calçada para a outra. Gravaram comigo em um telhado de uma velha capela que não sei se hoje em dia funciona. Para comer ao meio dia, um rapaz da favela nos conduz pelos estreitos becos entre a parede de granito que sustenta as casas de cima e os telhados dos casebres mais abaixo. Tentar pular o esgoto que corre ao ar livre e as sujeiras de todo tipo que se amontoam no caminho. Como é possível, meu Deus, que todo esse povo possa morar aqui e ser alegre e comunicativo como eu vejo que é. A dificuldade de gravar é a barulheira das crianças que empinam pipas (papagaio) nos telhados vizinhos e adolescentes que jogam pelada aqui na frente em um campo construído sobre uma laje. O rapaz que nos guia me disse que aqui moram seis mil famílias. A televisão entrevistou ontem muitos jovens e adultos. Quase todos declararam que o evento da juventude que acontecerá lá embaixo na cidade nada tem a ver com eles e que não estão envolvidos nisso. Passando pelos estreitos corredores entre as casas, descobri a fachada de algumas Igrejas pentecostais. Não vi nenhum sinal de comunidade católica. Deve ter. Os jornais chamam a atenção para a simplicidade do papa que deixa o protocolo para se encontrar com o povo. Isso é bom, mas não adianta muito se ele é sempre chefe de Estado e vem como tal. Nessa semana, passará mais tempo a atender governantes e figuras da elite brasileira do que propriamente os jovens que ele veio encontrar. É claro que não é o papa Francisco que tem culpa disso. É a estrutura e o importante é que ele mude isso. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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