Neste dia 24 de outubro, há 47 anos, Dom Helder Camara impunha suas mãos sobre mim e me ordenava presbítero na Igreja (padre).
Era a festa do aniversário da consagração da Igreja do Mosteiro de Olinda e o evangelho era a entrada de Jesus em Jericó, quando ele encontra Zaqueu, o rico cobrador de impostos que se sente pecador e sobe em uma árvore para ver Jesus quando ele passasse por ali. Jesus vai ao seu encontro e lhe diz: "Zaqueu, desce depressa porque hoje eu quero me hospedar em tua casa". Depois, afirma: "Hoje, entrou a salvação nessa casa, porque esse também é filho de Abraão. O Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido" (Lucas 19, 1 - 10).
Essa consciência de ser como Zaqueu, pequeno e pecador e de ter recebido a misericórdia gratuita de Deus toma conta do meu ser desde o dia de minha ordenação e procuro viver de acordo com isso e inclusive na abertura aos outros irmãos.
Naquela noite, em uma de suas cartas circulares, ele (Dom Helder) escreveu uma breve referência aos dois padres que ele ordenou no Mosteiro beneditino de Olinda. Um deles era eu.
Hoje, 47 anos depois, dou graças a Deus por me ter sempre acompanhado e dado forças no serviço ao povo. Ele me fez compreender que o meu ministério é apenas um serviço e o verdadeiro sacerdócio é o batismal do qual o ministério presbiteral decorre como do batismo brotam todos os serviços e dons que nós recebemos e podemos prestar uns aos outros. No ministério, procuro me manter discretamente a serviço do povo, unir sacramento e vida e trabalhar pela unidade de todos os filhos e filhas de Deus espalhados pelo mundo. Nesse caminho, sou feliz e se fosse para ser ordenado hoje, o seria com alegria. Convido vocês a dar graças a Deus junto comigo por tantas graças que me deu e me dá, principalmente tudo o que recebo através dos grupos e comunidades pobres e de meus tantos amigos e amigas, verdadeiros presentes do amor divino em minha vida.