Obrigado, Giulio!
A notícia do falecimento do teólogo italiano Giulio Girardi entristeceu a todos os que o conheciam e especialmente aos ambientes de Igreja mais aberta na América Latina. Ele foi um pioneiro na reflexão sobre Cristianismo e Socialismo, precursor mesmo da teologia da libertação. Por isso, foi expulso dos salesianos, dispensado do ministério de padre e demitido do cargo de diretor do Instituto Teológico Lumen Gentium em Bruxelas. Desde os anos 60, viveu sozinho e com o coração mais na América Latina do que na Europa. Apoiou os movimentos cristãos pelo socialismo, escreveu sobre o Sandinismo, apoiou a revolução cubana e acabou meio esquecido tanto pelos europeus como pelos latino-americanos. Eu o conheci nos anos 90 quando juntos animávamos a Assembléia do Povo de Deus, organismo macro-ecumênico que contou com o apoio de pouquíssimos teólogos e pastores (do Brasil, foram dois bispos: Pedro Casaldáliga e Antonio Fragoso). Giulio vibrava. Tornou-se conselheiro da Confederação dos Indios do Equador (CONAIE) e de organismos ecumênicos de Cuba. Uma vez fui com ele dar um curso no Centro Ecumênico Martin-Luther King em Havana. Como ele nunca tinha estado no Brasil, eu propus que o encontro intereclesial de Cebs o convidasse como teólogo observador no encontro de Ilheus (1998). Ele veio e adorou. Sempre o tive como mestre e profeta. Agora sozinho e pobre viveu os seus últimos anos em Roma, ignorado de todos e ontem faleceu. Os mártires latino-americanos o receberam com festa no céu. E nós todos que ficamos, lhe dizemos: "Obrigado, Giulio!"