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Conversa, segunda feira, 29 de setembro 2014

Estou de volta ao Recife, mas o coração mundializado (não globalizado) está ligado à Nova York, na sede da ONU, onde ontem se encerrou um importante encontro de representantes dos povos indígenas de vários continentes sobre a realidade dos índios atualmente e sobre como os governos e a sociedade civil podem participar dessa caminhada dos grupos indígenas em direção ao Bem viver e à recuperação de sua sabedoria ancestral a serviço de toda a humanidade.

Fico triste ao saber que a realidade dos índios no Brasil continua muito difícil. No Mato Grosso do Sul, a quase cada semana, algum/a jovem Guarani Kaiowá se suicida por não ver mais perspectiva de vida a não ser como escravos dos grandes fazendeiros de soja e de cana de açúcar. Na semana passada, a justiça do Estado negou o direito de uma das grandes comunidades Kaiowá a viver em suas terras ancestrais. Deu o direito de propriedade da terra a uma das maiores fazendas da região e a polícia pode então expulsar os índios de volta a favelas e à estrada onde viviam como mendigos até os anos 90. Em várias outras regiões, os direitos dos índios têm sido negados, enquanto a presidente Dilma aceita pousar junto e apoiar a candidatura da senadora Katia Abreu, líder dos fazendeiros que expulsam índios e lavradores de suas terras ancestrais. 

Nessa reunião dos índios em Nova York, era convidado o cacique Marcos Xucuru, líder indígena daqui de Pernambuco que há menos de um mês, recebia comigo uma medalha de honra ao mérito da Assembleia Legislativa de Pernambuco por seu trabalho em defesa dos direitos humanos. Há poucos dias, quando ele foi embarcar para o encontro na ONU onde foi convidado a discursar, a polícia federal não o deixou viajar. A desculpa foi que ele não podia sair do país porque tem um processo na justiça contra ele. Trata-se de um processo onde ele foi acusado de "invasor de terra" em 2003. Marcos  já foi julgado por isso e foi inocentado. Mas, os acusadores (fazendeiros) recorreram de novo e o caso ainda não voltou a ser julgado. Resultado: um dos mais importantes líderes indígenas, da coordenação nacional da aliança dos povos indígenas brasileiros, foi proibido de falar na ONU. Os índios acham que isso aconteceu porque, em véspera de eleição, o governo não quer que o índio diga lá fora o que os povos indígenas aqui estão sofrendo em pleno governo do PT. Por essa e por outras, vários amigos meus se perguntam como votar em um governo assim? O problema é que os outros candidatos/as que têm alguma chance de ganhar as eleições são mais à direita ainda. Espero um dia antes de morrer não ser mais obrigado a votar sempre no/a candidato/a menos pior". Quero ter o direito de votar em alguém e em um partido no qual, de fato, eu possa crer e com entusiasmo. Pelo momento.... 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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