O 1° encontro nacional de juventudes e espiritualidade libertadora começou ontem à tarde. Presentes uns 400 jovens entre 17 e 35 anos e vários assessores/as e acompanhantes de grupos de jovens. Uma equipe de organização local muito boa. Por falar em local, o antigo Seminário da Prainha, hoje Faculdade Católica, foi onde quando adolescente, Dom Hélder Câmara fez seu curso de filosofia e teologia. Antes dele, o padre Cícero e tantos padres e bispos nordestinos. Um local cheio de história e muito simbolismo.
Como em muitos desses encontros, as celebrações são momentos fortes de expressão da fé, mas também de alegria, descontração e festa. Como de memória dolorida como foi hoje a memória dos mártires e especialmente a leitura de um trecho do diário de Frei Tito Alencar contando as torturas a que foi submetido em 1972. Meu Deus, era difícil de ouvir e de se manter controlado.
À noite, ontem, a primeira atividade de conteúdo do encontro foi uma conversa aberta (entrevista) entre Frei Betto e eu. Durante quase uma hora, conversamos sobre como evoluímos na compreensão da espiritualidade, que tipo de elementos achamos mais importantes e que desafio vivemos nesse caminho. Não tivemos tempo de preparar e por isso foi improvisado. Embora muito incompleto como relato, foi bom porque foi existencial, centrado na experiência pessoal. Ambos, quando jovens, vivemos a passagem de uma espiritualidade meio ingênua e devocional para uma forma de viver a fé mais crítica e adulta. Depois, tivemos de aprender a viver uma espiritualidade mais despojada e pobre, na qual a experiência de comunhão com as pessoas mais empobrecidas foi e é fundamental. Confessei que eu não controlo isso. Sei que é pura graça de Deus viver como um êxtase espiritual, uma experiência forte de intimidade com Deus quando me encontro no meio de lavradores sem-terra, de índios, de negros, etc... Betto também contou coisas semelhantes com experiências dele no tempo da prisão.
Depois, eu disse que creio que Deus revela a cada pessoa uma palavra íntima, um segredo que é a vocação pessoal de cada um. A um, a palavra pode ser serviço, a outro, a mística da paz, a outro, uma política nova e assim por diante. É importante cada um/uma de nós descobrir qual a palavra que lá no fundo do seu coração, Deus sussurra como um segredo de amor e como ponto de encontro íntimo entre a pessoa e Deus. No meu caso, desde cedo, descobri (a duras penas) que essa palavra é unidade. Descobri minha vocação de operário da unidade desde que era adolescente. Tenho vivido isso das formas mais diversas, mas é o eixo da minha vida espiritual essa busca e para o serviço transformador do mundo.
Por questão de tempo, fiquei com a sensação de que, na nossa conversa (entre mim e Betto) ficou faltando algumas questões que para os jovens teria sido importante tocar e explicitar: a dimensão política do caminho espiritual (nós falamos da dimensão social, mas menos da política institucional), a questão corporal, afetivo-social tão importante para a juventude. Ou falávamos de forma profunda ou não adiantava e o tempo era muito pouco.
Alguém me perguntou: Os teólogos da teologia da libertação, quase todos já estão com mais de 60. Quem vocês pensam em deixar como continuadores?
E eu respondi: Vocês!!!