Passo Fundo. Pela manhã, um encontro com o Observatório da Juventude, uma iniciativa excelente sobre educação para a paz no meio da juventude universitária e nas escolas. A alma de tudo isso é o professor Sílvio Bedin, irmão e amigo que acompanho desde os tempos de juventude e que é um verdadeiro profeta da educação para a paz.
Esse encontro era um encontro preparatório para um Seminário da Faculdade de Educação sobre o Bem Viver. O tema que me pediram foi "O trabalho, a saúde, o sofrimento e a espiritualidade". Eram umas 30 pessoas e todas me pareceram pessoas comprometidas com esse caminho. Eu teria preferido um método que partisse do grupo e depois eu fizesse uma síntese. Mas, os coordenadores preferiam que eu puxasse a conversa e provocasse o assunto. Improvisei uma introdução ao tema e parece que todos gostaram. Fico feliz de colaborar com um grupo como esse: excelente.
À tarde, o padre Arnildo Fritzen e o jovem Júnior Centenaro, coordenadores da pastoral arquidiocesana, me levaram a um acampamento de lavradores sem terra, acampados na proximidade da cidade.
Conheço o padre Arnildo desde 1980, quando eu trabalhava no secretariado nacional da CPT e vim de Goiânia de ônibus para apoiar a ele e aos lavradores acampados em Ronda Alta. Ao chegar lá, fui detido na porta do acampamento pelo Coronel Curió. E fiquei quase um dia preso, sem poder entrar. Mas, quando me permitiram entrar, celebrei com o pessoal e os lavradores falavam: "Nós estamos vivendo a luta pela terra, como os hebreus da Bíblia e nos sentimos conduzidos por Deus".
Hoje, reencontro o padre Arnildo, bem mais velho, mas com a mesma garra, o mesmo espírito profético a serviço do povo.
Vários lavradores do acampamento o conheciam e vi a amizade que têm por ele. O acampamento se chama Terra Vida. O acampamento é coordenado pelos companheiros do MST e MAB (movimento dos atingidos por barragens). A terra é propriedade do deputado Maurício Dal Agnol, envolvido em vários processos de corrupção e dono de 36 fazendas na região. Na Fazenda Cabeceira estão acampadas 80 famílias. Barracas de plástico no chão vermelho. Tudo muito organizado, limpo e ambiente até alegre. Eles têm uma horta comunitária orgânica e vi que está muito bonita. Conversamos mais de uma hora. Saí revigorado na minha fé, como sempre quando encontro os irmãos lavradores sem terra e índios.