Ontem, nós celebramos o décimo ano do martírio da irmã Dorothy Stang. Lembro-me muito dela nos tempos primeiros que ela viveu no Brasil e quando foi aluna minha em um curso da CPT, não sei em que ano. Depois nos perdemos de vista e quando soube, ela tinha dado a vida pelo povo da Amazônia e pela causa da fé.
Lembro-me muito bem do seu humor sempre vivo e com que alegria vivia o seu trabalho. Sei que até a última hora quando respondeu ao seu assassino que fora pago para matá-la, ela mostrava a Bíblia como sua única arma e dizia ao rapaz:
- Meu filho, não faça uma coisa dessas. Vai prejudicar toda a sua vida. E foram suas últimas palavras.
Como era natural dos Estados Unidos, conseguiram julgar e condenar o fazendeiro Miro e o rapaz que ele pagou para matá-la. Mas, eles foram apenas o dedo que aperta o gatilho. A cabeça que está por trás de tudo é o sistema do latifúndio e a sociedade do lucro e da exploração da natureza e das pessoas. E isso, infelizmente, não mudou nem melhorou dez anos depois. Continua ativo e continua assassinando muita gente e a natureza.
Quem sabe, há uma relação com isso o fato de que estou em Campina Grande, PB, para daqui há algumas horas, fazer a palestra inicial do 24° Encontro da Nova Consciência, um encontro interreligioso e que une pessoas dos mais diferentes caminhos espirituais. Nesse ano, o tema geral do encontro é "Desafios para um futuro possível". Quem sabe, se as religiões e tradições espirituais assumirem para valer a defesa da natureza e o cuidado com a vida, damos um passo novo para o diálogo e o trabalho comum entre as religiões e damos um testemunho que ajudará a humanidade a vislumbrar um futuro novo possível.