Queridos irmãos e irmãs,
Viajo hoje para o norte da Itália onde participarei e devo assessorar um encontro nacional de famílias e comunidades ligadas à Campanha do Balanço de Justiça, uma organização que propõe algo importante: cada pessoa fazer um balanço mensal do que gasta para ver se os seus gastos e consumos correspondem a aquilo que acreditamos e queremos para nós. O encontro do qual vou participar em Veneza tem como título "Descolonizar o imaginário". Ainda não preparei o que devo dizer aos irmaos e irmãs sobre isso.
Vou ficar dois ou três dias sem poder me comunicar com vocês, mas assim que puder, (domingo ou segunda), volto a escrever.
Nesse final de semana, as comunidades judaicas celebram a festa do ano novo judaico (Hosh Hassanah), uma das festas fundamentais e centrais do ano litúrgico. Eu gostaria muito que as Igrejas cristãs tivessem herdado essa festa. Seria bem melhor do que celebrar o ano civil no dia 1 de janeiro dentro do modelo consumista que temos no Ocidente. Mas, o importante é herdarmos mesmo o espírito da festa. Sobre isso, transcrevo o artigo de um espiritual judeu:
Entre Rosh Hashana e Yom Kipur- 5773- Entre o Ano Novo e o dia do Perdão
Refletir antes de Julgar
Rosh Hashana nos coloca a pergunta: o que aprendemos no ano que passou?
E Iom Kipur nos lembra de que o mais difícil é aprender a julgar.
Por isso neste período refletimos sobre a nossa relação com os outros, pois é neles que espelhamos nossos desejos e nossos temores, nossas idealizações e nossos preconceitos, nosso egoísmo e nossa solidariedade.
Em cada julgamento que realizamos estamos julgando a pessoa que somos.
Iom Kipur nos lembra de que a capacidade de julgamento é o que nos faz humanos, mas também pode nos desumanizar, quando:
- Julgamos em forma apresada, e fomos injustos.
- Julgamos sob o efeito da cólera ou do medo, e agimos errado.
- Julgamos em forma preconceituosa, e humilhamos.
- Julgamos em forma dogmática, e desrespeitamos quem pensa diferente.
- Julgamos em função da opinião dos outros e não do que sentimos, e nos tracionamos.
- Julgamos a forma e não o conteúdo, e fomos banais.
- Julgamos quando o que deveríamos ter feito era só compreender.
- E usamos o poder no lugar do dialogo, e oprimimos.
- E valorizamos o que não merecia e desvalorizamos o que não devia.
- E humilhamos com nosso olhar ou com um comentário, incapazes de sair de nossa forma estreita de ser.
- Porque o dia do perdão deve ser o dia em que nos propomos mudar nossa forma de julgar.
- E sermos mais prudentes e menos afobados.
- E sermos mais compreensivos e menos preconceituosos
- E sermos mais cautelosos e menos apressados.
- E sermos mais curiosos e menos dogmáticos.
- E sermos mais generosos e menos egoístas.
- Valorizando o essencial e não o supérfluo.
- Protegendo nossos interesses sem pisar nos outros.
- Levando em conta nossos sentimentos sem perder a noção de justiça.
- Superando nossos preconceitos que são uma couraça empobrecedora.
- E não permitindo que os medos nos dominem.
De forma que possamos chegar ao próximo Rosh Hashana Yom Kipur tendo julgado menos porque nos conhecemos mais, nos colocando ainda que seja por um instante na pele do outro, acumulado assim menos arrependimentos e mais atos de amor, produzido menos dor e mais satisfação.
Porque queremos ser melhores, vale a pena viver e brindar:
Shehechyanu, ve´quimanau ve’higuianu lazman haze.
Que vivemos, que existimos, que chegamos, a este momento.
Bernardo Sorj