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Conversa, sexta feira, 21 de setembro 2012

Queridos irmãos e irmãs, 

Veneza é uma cidade opulenta e na qual até as paredes falam de riquezas, conquistas e grandiosidades. Sua beleza natural está muito ligada a um esplendor arquitetônico e artístico, único no mundo. Não deixa de ser irônico que exatamente nessa cidade simbolizada pelo leão, esteja havendo a 3a conferência internacional sobre o decrescimento como critério de vida e futuro para a humanidade. E é muito interessante que mais de duas mil pessoas de vários países acorram para essa reflexão. (o encontro é traduzido em italiano, inglês, espanhol e francês). A maioria jovem e muitos intelectuais de várias áreas. Ontem à tarde em uma mesa redonda, falei sobre o decrescimento e o sul do mundo. Mostrei que é diferente esse critério para a Europa mesmo em crise mas rica e a América Latina ou a África que não tem mais como decrescer (já está embaixo). e conversei sobre um caminho necessário de sobriedade, solidariedade e na linha do bem viver indígena. À noite, falei junto com Serge Latouche, cientista social francês que criou essa teoria do decrescimento e Alex Zanotelli, missionário e teólogo italiano. Debatemos o que, na linha do decrescimento, significa "Descolonizar o imaginário". 

Era em uma Igreja franciscana do século XVI, muito bonita. No altar mor um quadro de Tiziano sobre a assunção de Maria. Primeiramente, a pastora perguntou: O que significa Descolonizar o imaginário. Ficou claro que o opressor para conquistar não usa somente as armas e não coloniza em primeiro lugar os corpos, mas as culturas e as mentes das pessoas. E para descolonizar nossas mentes, temos antes de tudo de reconhecer que somos colonizados. E que somos sim presas da publicidade e seduzidos pela ideologia dominante e pela propaganda... 

Ela perguntou: Mas o cristianismo tem colaborado com a descolonização ou com a colonização? Respondi a partir da América Latina onde até hoje as Igrejas cristãs falam com sotaque europeu ou norte-americano. E contei meu espanto quando aos 18 anos entrei no mosteiro beneditino, descobri que até o começo do século XX, os monges tinham escravos e havia um lugar no mosteiro que se chamava senzala. É claro que falei então de como a teologia da libertação e a caminhada das comunidades eclesiais de base e das pastorais populares têm se comprometido em descolonizar as culturas e também os atores reais da vida. 

Conversamos ainda sobre as perspectivas de esperança e os primeiros passos necessários para esse caminho. 

Amanhã celebro para um grupo local da Pax Christi, cristãos engajados no compromisso da paz e domingo pela manhã coordeno uma eucaristia ecumênica que encerra o encontro. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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