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​Conversa, sexta feira, 22 de novembro 2013

Ontem, aqui em Verona, recebi um telefonema para mim muito significativo. Era o bispo Loris Capovilla, 98 anos. Ele foi secretário pessoal do papa João XXIII e hoje vive aposentado em Sotto il Monte, perto de Bérgamo, onde nasceu o papa João. Telefonou-me porque queria falar de sua amizade com Dom Hélder e como, no tempo do Concílio, Dom Hélder ajudava o papa João XXIII na sua tarefa de renovar a Igreja. E ele concluia: Hoje, estamos começando a viver na Igreja um tempo novo. Depois de um longo inverno, frio e rigoroso, está chegando através do papa Francisco uma nova primavera. Concordei e ele me disse como quem faz um apelo: Necessitamos de um novo Hélder Câmara que mobilize a Igreja de hoje. Eu respondi: É verdade, mas os dois papas anteriores a esse impediram que a Igreja continuasse a ter bispos proféticos. E como a geração anterior começa a falecer, é difícil encontrar um novo Dom Hélder. Concluímos o telefonema eu lhe prometendo visitá-lo em uma próxima vez que vier ao norte da Itália. 

Tive vontade de responder a Dom Loris Capovilla que, em minha opinião, o papa não pode criar uma nova primavera na Igreja. Pode pedir e convidar as comunidades locais a fazê-la, mas ou essa nova estação se fará a partir das bases e de forma participativa ou não teria consistência. Atualmente, vejo cardeais e bispos que ontem se comportavam como príncipes, hoje se expressam pela simplicidade. Nos jornais italianos de hoje tem uma entrevista com um dos oito cardeais que estão ajudando o papa na reforma da cúria. Perguntaram-lhe o que achava do fato do papa não querer morar nos apartamentos pontifícios. Ele respondeu que acha ótimo e que o palácio apostólico é muito isolado e não é lugar para um pastor. Tenho absoluta certeza que, apenas a um ano, ele nunca diria isso. Pessoalmente, não confio nesse tipo de funcionário da religião. Prefiro inclusive lidar com um conservador fechado, mas que seja sincero e seja sempre ele a conviver com esses que como dizia Jesus são como caniço agitado pelo vento. Dobram-se de acordo com a conveniência e para onde soprar o poder.   Infelizmente, na atual estrutura eclesiástica católica, tudo depende do bispo. Uma diocese pode ser muito aberta e inserida em trabalhos populares. Muda o bispo e chega um conservador. Em um ano, os movimentos de pastoral social se acabam ou migram para ONGs e fundações independentes. Isso precisa mudar e espero que um próximo sínodo ajude o papa a mudar isso. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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