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Conversa, sexta feira, 24 de outubro de 2014

Hoje, o meu amigo padre João Pubben me escreveu da Holanda que leu no livro das vigílias de Dom Helder Camara uma anotação do Dom, feita na 595a carta circular, escrita em Recife, na noite de 24 a 25 de outubro de 1969: 

“Foi de abalar a cerimônia de ordenação de um diácono e dois Padres, no Mosteiro de São Bento. Como está válido o novo texto do ritual de ordenação!... Havia uns 30 Pastores presentes: saíram engasgados de emoção.”

Sim, um desses padres ordenados pelo Dom naquela tarde no mosteiro de Olinda era eu. E ele, penso, não disse o nosso nome (o meu, o de Beda, o outro padre ordenado e o do diácono - Sílvio Milanez - para evitar algum problema com a censura militar que naquele momento era muito dura contra ele e contra todas as pessoas ligadas a ele. De qualquer modo, o importante é que ao me enviar essa anotação, João me faz lembrar isso que o Dom anota: "havia uns 30 pastores presentes e eles saíram engasgados de emoção". De fato, eu já tinha a inserção que tenho com irmãos e irmãs de Igrejas evangélicas e um bom grupo esteve presente naquela celebração de ordenação presbiteral.

Hoje, embora na diáspora (ou seja, sem estar morando em nenhuma comunidade de monges) e em situação muito diferente daquela de quando tinha 24 anos de idade, faço a memória daquele momento de Deus. Agradeço ter sido ordenado e ter sido ordenado pelo Dom, com a graça própria que isso significou para mim - em termos de assumir uma linha de Igreja, um modo de ser padre, uma espiritualidade própria que aprendi com ele e com o tempo consegui sintetizar ao unir a tradição dos monges e ao mesmo tempo a mística do reino da teologia da libertação (quantas pessoas me diziam que isso não era possível e Deus me deu a graça de fazer, ao menos na minha vida pessoal e nos meus trabalhos). 

Agradeço ao Dom ter me indicado o caminho de um ministério presbiteral de forma não clerical e inserido. Exatamente por isso não digo nada aqui a meus amigos italianos sobre esse aniversário e celebro apenas no meu coração.

A vocês que estão lendo essas linhas, o que peço é que rezem por mim para que o Espírito me fortaleça nesse caminho indicado por Dom Helder. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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