Blog Aqui vamos conversar, refletir e de certa forma conviver.

Conversa, sexta feira, 25 de julho 2014

João Augusto Bastos é um professor e intelectual, atualmente, residente em Curitiba, com seus filhos e netos/as. Até o começo da década de 70, era monge beneditino e foi meu mestre de noviciado. Mantenho com ele uma relação de amizade e diálogo. Agora, ele me envia o mais recente texto que ele elaborou: um livro intitulado: "O pensamento pelo avesso". Um livro de quase 250 páginas sobre a diferença entre o pensamento na cultura greco-romana e o modo de pensar semítico que foi assumido pela Bíblia judaica e mesmo pelos evangelhos. Li e reli o livro inteiro hoje, no meio de outras coisas que tive de fazer. Uma reflexão muito importante. Mesmo se nos detalhes, eu teria algumas considerações e questionamentos a fazer, acho importantíssimo o assunto.

Em outros dias, quero comentar alguns capítulos e elementos do livro. Hoje, só deixo em vocês o aperitivo para dar vontade de se alimentar. 

Afinal, temos de reconhecer os valores da cultura greco-romana que deu origem à civilização  ocidental, mas precisamos acabar com a hegemonia e o sentimento de superioridade que cerca essa cultura de uma aura colonialista. As culturas indígenas e negras, assim como as orientais têm muito a nos ensinar e é importante esse diálogo de culturas em pé de igualdade. Além disso, na Igreja, vivemos até hoje uma forte dependência de uma teologia e uma espiritualidade pensadas a partir da cultura greco-romana e que, em muitos pontos, tem pouco a ver com o evangelho de Jesus. Para que o Cristianismo possa se atualizar em nosso continente e possa falar uma palavra à humanidade, hoje, ele tem que ser desocidentalizado, ou pelo menos, ser capaz de ser compreendido como se dava com o público do primeiro dia de Pentecostes cristão: cada um os ouvia falar em sua própria língua, isso é, em sua própria cultura. Não podemos continuar com uma Igreja que até hoje é como um estrangeiro que, embora há anos no país, ainda fala a nossa língua com sotaque e, no fundo, ainda acredita que a sua cultura seja superior a que encontrou aqui. Deus seja louvado pelos missionários e missionárias estrangeiros/as generosos/as e abertos que nos ensinaram tanto. E muitas vezes, se tornam mais brasileiros do que muitos brasileiros norte-americanalhados. Mas, não basta isso.  É preciso mesmo tornar morena e nossa a própria forma de expressar a fé. Nesse ponto, tenho a impressão de que, por obra e graça dos dois papas anteriores ao atual, nas últimas décadas, voltamos muito para trás. Quando vou a uma celebração oficial, fico impressionado como para os padres que celebram, a bússola é o jeito romano de ser. Pessoalmente, não quero romper com o rito romano, mas proponho um estilo próprio nosso no modo de celebrar o rito romano. Do mesmo modo, esse jeito brasileiro e transformador deve permear a teologia, a disciplina eclesial, a organização das comunidades e a própria espiritualidade. "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas" (AP 2, 5).

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

Informações