Blog Aqui vamos conversar, refletir e de certa forma conviver.

Conversa, sexta feira, 26 de julho 2013 à noite

Estou acabando de acompanhar pela rede Globo a via sacra com o papa e a multidão de um milhão de jovens (1.500.000?). 

A via sacra é uma devoção que me lembra minha infância e um catolicismo mais fixado na cruz e na morte de Jesus do que na Páscoa e na ressurreição (não estou com isso querendo separar a morte e a ressurreição, mas superar o isolamento no aspecto doloroso e sacrificial). É popular e por isso compreendo que pastoralmente a Igreja a preserve. Mas, justamente o que achei dessa que está acabando de se realizar na praia de Copacabana é que não tem nada de popular e tem alguns aspectos contraditórios com a mensagem que deseja passar. Em primeiro lugar, a tal Cruz peregrina, que na Jornada representa Jesus, é ladeada por um batalhão da marinha ou de algum outro grupo militar, devidamente fardado e marchando militarmente. Que forma estranha de honrar a cruz de Jesus que morreu para trazer ao mundo paz e reconciliação. 

Além disso, entre os jovens que carregaram a cruz durante toda a via sacra, nenhum/a negro/a, nenhum com cara de pobre. Todos vestidos de bata, mas alvos ou brancos e cara de classe média alta... Posso estar enganado. Todas as pessoas que proclamaram textos bíblicos (curtos e bem escolhidos) o fizeram de longo, ou de paletó e gravata... A maioria artistas da Globo (Ana Maria Braga, Eriberto Leão, Cássia Kiss, Elba Ramalho, etc). As que faziam oração representavam um seminarista de batina e fala bem alienada, uma freirinha - coitada - suspirando piedade. E para não ser tudo assim, havia em uma das estações alusões à pastoral carcerária, mas sem dizer nada sobre ela Parece que havia carcerários diante do cenário, Não percebi porque estavam todos de terno e gravata... Algumas orações faziam alusão a problemas de hoje (evangelizar o mundo virtual da internet, vencer a opressão econômica sobre o jovem, o problema dos doentes terminais, mas tudo tinha um tom individualista de alguém que expressava sua piedade e a multidão de juventude em nenhum momento foi convidada a participar de nada. Só olhar e admirar. 

A Via Sacra teve uma dramatização artística de bom gosto, com música clássica tocada por uma orquestra maravilhosa, textos musicais belíssimos e atores excelentes. Mas, em termos de oração, me pareceu nada participativa. E a própria grandiosidade e majestade do cenário - um palco para mil pessoas e que colocava o papa sentado em uma cátedra a oito metros de altura, tudo isso tornava difícil conciliar o que se falava sobre entrega da vida e amor de Jesus e aquilo que se via - o palco tomado por bispos e cardeais vestidos de preto e vermelho - o papa parecia de todos o mais simples - com sua batina branca - e em algumas imagens que o mostravam durante a via sacra - posso estar enganado - tive a impressão de que ele tirava um cochilo - o que fazia muito bem - que ninguém é de ferro. 

Agora estou escutando a homilia do papa Francisco. Uma palavra profunda e como sempre afetuosa. Tocou em vários problemas concretos. Propôs uma oração pelos jovens, vítimas do incêndio da boate de Santa Maria. Falou dos pais e mães que têm filhos e filhas dominados pela droga. Falou da juventude decepcionada com a política oficial e a corrupção. Fez um apelo à esperança e à sairmos de nós mesmos e sermos solidários. 

Foi a homilia mais viva e mais direta que eu senti dele nessa semana.

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

Informações