Um amigo me escreve pedindo ajuda para retomar a esperança. Olha para si mesmo e se percebe doente e frágil. Olha para o país e se desilude com o governo atual e com os políticos. Quase todos só caminham para a direita, cada vez mais para a direita e parece que o cinismo político tomou conta de tudo e do modo mais vulgar possível. Reflito por um momento antes de responder. Como dizer a outra pessoa que seu sofrimento é menos grave ou que embora sofra sempre há razões para esperar? Olho para mim mesmo e me sinto equilibrado como um trapezista em uma corda bamba, sustentado no alto pela graça divina e por uma energia que, como dizia Dom Hélder, durante o dia, me fragmenta em mil pedaços, mas à noite na oração - no caso do Dom eram as vigílias - que me tentam cada vez mais e penso em adotá-las, embora de um modo diferente dele - mas como dizia a oração me unifica e me renova as forças. Lembro-me de um escrito que vi em um muro de La Paz (já há anos) e essa inscrição dizia: Guardemos o pessimismo para dias melhores. Isso significa que em dias mais difíceis, não temos direito de ser pessimistas ou afundamos de vez. Uma palavra do evangelho lido nesses dias e que retomará no próximo domingo diz: Quando virem essas coisas acontecerem (sinais que parecem ser do fim), levantem a cabeça e se alegrem porque a libertação de vocês se aproxima. Espero muito desse tempo do Advento que começará amanhã à tarde. Vou telefonar a meu amigo desesperançado. Não usarei nenhum argumento intelectual. Simplesmente vou expressar do meu jeito minha amizade e meu carinho de irmão. Isso é mais importante e convincente do que todos os argumentos que eu poderia dizer. Vou convidá-lo a mais uma vez entrar na dança da esperança.